Pequenos negócios são mais impactados com lockdown e apoio é necessário, apontam economistas

Pequenos negócios são mais impactados com lockdown e apoio é necessário, apontam economistas

Cenário exige repetição de série de medidas de suporte durante suspensão das atividades, como o auxílio emergencial e facilidades para acesso ao crédito

Passado quase um ano do primeiro lockdown, a segunda suspensão das atividades não-essenciais em Fortaleza e em outras cidades do Estado deve, mais uma vez, atingir em cheio as pequenas empresas, principalmente as informais. Sem capital ou qualquer estrutura para dar suporte suficiente para atravessar o período, e com um auxílio emergencial bem menor, a situação deve ser ainda mais difícil neste ano.

Para o economista Alex Araújo, a tendência é que o impacto de um segundo lockdown para a economia seja ainda mais forte do que no ano passado. “E preocupa muito a perspectiva, porque a gente está entrando agora em lockdown por um período curto, mas há muita possibilidade de ser continuado”, avalia.

O aumento das restrições ocorre em um momento em que empresas e o próprio orçamento familiar já estão consideravelmente comprometidos, aponta Araújo. Ele explica que o período de retomada que se teve no segundo semestre do ano passado não foi suficiente para que os pequenos negócios fizessem caixa para passar por nova temporada de fechamento.

“O próprio auxílio emergencial que vinha mantendo grande parte da economia ativa no ano passado já está há mais de dois meses sem o pagamento desse valor. Isso terminou fazendo com que quem tinha alguma reserva usasse para sobrevivência”, salienta

“Tem outros setores sofrendo, por exemplo, de escolas privadas, academias. São segmentos que normalmente trabalhavam com pouco capital de giro e a maioria de pequeno porte, então a capacidade financeira é limitada. Tem um efeito nessa economia que é responsável pela qualidade de vida de muitas famílias que vai ser muito afetada agora”.

O vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef), Raul Santos, endossa a avaliação de que os pequenos serão mais impactados, destacando que muitas empresas de pequeno e médio porte tiveram dificuldades para investir em canais digitais para se adaptar ao período

“Acho que o maior problema vem muito em cima dos informais, pessoal que trabalha em feira, esse tipo de coisa que a dependência da presença física é muito grande. O microempreendedor está extremamente prejudicado, não tem carteira assinada, não vai entrar na ajuda do governo, a não ser o auxílio emergencial, que será menor. E é uma fatia bem interessante da economia. Eles movimentam bastante a nossa economia em termos pulverizados”, aponta.

Na avaliação de Araújo, a tendência é que a situação provoque ainda mais fechamentos. “Dependendo da duração que tenha e olhando para o cenário de vacina, a gente não consegue perceber aqui no Brasil quando vamos voltar à normalidade, então pode se ter um período prolongado que leve à falência de muitos negócios”.

Medidas de suporte
Nesse contexto, Araújo reforça a necessidade de retomar medidas como as de acesso a linhas de créditos. “É muito preocupante o impacto que pode trazer, vai ser necessária a repetição de uma série de medidas que foram adotadas no ano passado, o próprio auxílio emergencial, medidas de apoio às empresas e outras linhas de crédito que possam ser oferecidas para fazer com que os negócios tenham como sobreviver a esse teste de fogo tão forte que é a nova paralisação”, diz.

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) já enviou um ofício ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e ao presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Issac Sidney, pedindo a prorrogação dos prazos de pagamento de empréstimos do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) (Pronampe).

Já as medidas de incentivo anunciadas pelo Governo Estadual ao setor de eventos e de alimentação fora do lar são consideradas paliativas, afirma o vice-presidente do Ibef, Raul Santos.

“Isso vai servir para ter uma sobrevida, mas não vai ser suficiente para manter o negócio aberto. Esse tipo de ajuda é mais para dar um pouco mais de tempo para as pessoas irem se organizando, mas não tem a menor possibilidade de uma ajuda dessa manter o faturamento. Até porque esse pessoal já vem sofrendo desde março do ano passado”, ressalta.

Para ele, as empresas precisam investir em soluções internas tendo como norte o serviço digital. Mas Santos afirma que o governo poderia oferecer soluções além do dinheiro, como capacitação ou acesso a conteúdos que melhorem a qualidade dos pequenos negócios online.

“Acredito que o grande segredo para frente é o investimento em canais digitais de relacionamento. Isso teria que ser feito de qualquer jeito ao longo dos anos, a pandemia apenas trouxe o desafio de acelerar esse processo”.

“O governo tem um corpo técnico bem capacitado, então poderia estar deslocando algumas pessoas para o desenvolvimento de tecnologias que o pessoal de renda mais baixa, o autônomo, trabalhador informal, microempreendedor pudesse usar esses canais para poder escoar suas vendas”, completa Santos.

Aprendizagem com a pandemia
O presidente do Ibef avalia que, como algumas empresas conseguiram apressar os passos na modernização dos serviços para os meios digitais, a experiência preparou alguns setores para lidar os efeitos de novo endurecimento das regras diante do quadro de emergência sanitária.

“No geral é ruim para todo mundo, é fato. Mas sendo o segundo lockdown, já convivendo com essa pandemia há um ano, vários são os setores que se preparam e aceleraram os canais digitais. Não é uma novidade e desde o fim do ano que vinha essa ameaça de ter ou não o lockdown. Vários negócios se prepararam, quem não tinha canal digital passou a ter”, aponta.

“O lockdown é necessário para conter a pandemia. O impacto vai ser bem menor do que foi no ano passado e afeta diferentemente os segmentos, uma vez que a indústria continua funcionando normalmente e a construção civil”, concorda Silvana Parente, vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon CE) e diretora de Economia Popular e solidária da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece).

A economista reforça a necessidade de se acelerar o processo de vacinação contra a Covid-19 para se poder avançar no campo econômico. “A economia e a saúde caminham passo a passo. A economia só vai começar a retomar mesmo quando a gente conseguir conter a pandemia e acelerar o processo de vacinação”, frisa Silvana Parente.

Fonte: Diário do Nordeste