Corrida de bilhões: Europa acelera e vê Ceará como solução em hidrogênio verde
Em meio à guerra na Ucrânia e pressionados por metas climáticas de redução da emissão de poluentes, os países europeus entraram numa corrida contra o tempo.
As principais economias do continente usam fontes não renováveis para a produção de eletricidade (59% a partir de gás natural, carvão e energia nuclear) e, apesar do esforço de promover a transição energética, não encontram a solução por lá. Agora, olham além-mar a fonte energética que procuram, inclusive, no Ceará.
Isso porque consideram como ideal para ser substituto do petróleo o hidrogênio, elemento abundante no nosso planeta, e que pode ser extraído de formas poluentes e sustentáveis.
Só que para retirar da maneira mais ambiental é necessário abundância de energia elétrica proveniente de fontes renováveis, como eólica e solar. Neste ponto um seleto grupo de países se destaca, especialmente o Brasil, segundo fontes diversas do mercado.
Hoje, o País tem 83% da matriz elétrica baseada em fontes renováveis, de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). E, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) do Brasil, em fevereiro de 2021, apontou o hidrogênio verde como um dos temas prioritários para pesquisa e desenvolvimento.
Existe potencial de exportação de hidrogênio verde da ordem de 4 milhões de toneladas em 2050, o que pode representar 10% das exportações globais de hidrogênio neste horizonte, num mercado da ordem de US$ 600 bilhões anuais. Dentro dessa movimentação, milhões de dólares em negócios.
Além de aportes em plantas industriais (via empresas privadas, de capital misto ou estatais), países europeus semanalmente visitam estados brasileiros e oferecem apoio no desenvolvimento de estudos e troca de informações para a formação de indústria de hidrogênio verde no Brasil.
Alemanha, Holanda, França e Reino Unido aparecem como principais interessados, mas é correto dizer que há um movimento massivo dos países do bloco do Euro em torno do chamado “combustível do futuro”, substituto do petróleo.
Ao O POVO, a diretora de Comunicação da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha do Ceará (CCIBAC), Isabel Utz, destaca que a visão alemã sobre o potencial do Estado para ser fornecedor é real e já é revertido em apoios, sobretudo em projetos na área de educação e aprendizagem profissional (inclusive em convênio com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai) e pesquisa.
O potencial de geração de energias renováveis no Ceará tem no bojo 56 gigawatts (GW) de geração eólica offshore em análise nos órgãos ambientais, organização e saúde financeira com possibilidade de investimentos em infraestrutura logística, além da parceria entre Porto do Pecém e a Port of Rotterdam, também administradora do Porto de Roterdã.
Esse último ponto é de extrema relevância para a Alemanha. “O porto cearense é sócio da Port of Rotterdam que poderá se constituir num grande hub de energia da Europa e agrega toda sua expertise e tecnologia na administração e operações portuárias.”
A diretora da CCIBAC enfatiza que, apesar da tradição alemã de mineração de carvão, há o entendimento de que o hidrogênio verde representa uma mudança de perspectiva. Por isso os subsídios e leilões para estimular esse novo vetor energético.
“A consciência e o compromisso da Alemanha no combate aos efeitos indesejáveis das mudanças climáticas, levou o País a decidir pela aceleração da transição energética e adotar o hidrogênio verde como vetor energético livre de emissões de carbono”, complementa.
Os desafios são grandes. Apesar da guerra na Ucrânia mostrar a necessidade da menor dependência dos combustíveis fósseis é urgente e necessária, debates locais foram levantados internamente nos países europeus.
No entanto, de acordo com o estudo “Scaling-up” publicado pelo Hydrogen Council, em 2050, o hidrogênio representará 18% de toda a energia consumida mundialmente.
Isso deve resultar em redução anual de 6 bilhões de toneladas de emissões de CO2 e eliminando os principais poluentes do ar como o dióxido de enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NOx) e materiais particulados.
Portanto, há o entendimento de que o processo de substituição dos combustíveis fósseis pelo H2V será gradual, desta forma, a mudança no perfil de empregos será lenta e não causará preocupações relativas à empregabilidade.
Hugo Figueirêdo, presidente da Companhia de Desenvolvimento do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp S/A), destaca que o interesse europeu faz com que todas as semanas mantenha contatos com representates daqueles países.
A parceria do Pecém com holandesa Port of Rotterdam também é estratégica, já que administra o porto europeu mais adiantado na construção de amôniodutos e gasodutos para hidrogênio, que a partir da Holanda atenderiam a demanda de toda a Europa.
“Hoje quem está puxando essa demanda é a Alemanha. O governo alemão está entrando com dinheiro, lançou o primeiro edital para compra de combustíveis provenientes de H2V. Depois vem outros países procurando desenvolver a cadeia deles e buscam ainda fontes de suprimentos”, afirma Hugo, que tem viagem marcada para o Reino Unido, onde irá visitar portos e centros de tecnologia em H2V.
Transição energética: O poder do hidrogênio verde desvendado em estudo
Um estudo do inédito, “Programa de Transição Energética”, feito em parceria entre o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e o Centro de Economia Energética e Ambiental (Cenergia), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), aponta que a matriz energética brasileira pode se tornar ainda mais renovável nos próximos anos. E o hidrogênio faz parte desse processo.
A aplicação indireta é um destaque, num processo em que o hidrogênio entra como insumo intermediário na produção de outros combustíveis, como querosene de aviação ou diesel, a partir de processo de reação química com captura de carbono.
Os dados ponderam que, apesar de aumento da demanda por energia na nossa economia, haverá queda da utilização de combustíveis fósseis e aumento de uso de biocombustíveis avançados. Com isso, 70% da matriz energética primária serão de fontes renováveis, como etanol e biodiesel.
Já a partir de 2040 serão introduzidos os biocombustíveis avançados, como o diesel verde, bioquerosene de aviação, gasolina verde e biocombustíveis para uso marítimo.
Ainda em 2023, a Alemanha sediará o primeiro leilão global de H2V, organizado pela H2Global, negociando os produtos derivados da produção do gás hidrogênio, como amônia verde, metanol verde e combustível de aviação sustentável baseado na eletricidade (e-SAF, na sigla em inglês).
E o Conselho de Administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), do Brasil, é quem deve certificar os possíveis vencedores.
Para garantir que o hidrogênio produzido seja realmente proveniente de fontes renováveis, o quesito certificação está em debate.
Esse é um item primordial, especialmente num momento em que o primeiro leilão para hidrogênio verde é preparado pela Alemanha, o que atrai atenção de diversas empresas, como a EDP, que possui planta no hub de hidrogênio do Pecém.
Talita Porto, vice-presidente do CCEE, afirma que o Brasil tem liderado as discussões internacionais sobre os padrões para certificação do hidrogênio.
Lideranças do Brasil, Austrália, Canadá, Espanha, Estados Unidos, Holanda, Israel, Itália e Reino Unido formam um grupo de trabalho para um certificado.
“A intenção é, até 2024, disponibilizar as diretrizes que serão usadas por empresas que estejam comercializando o hidrogênio e seus derivados em todos os continentes”, diz.
Além do Ceará: Os projetos em desenvolvimento no Brasil
Outros investimentos em produção de hidrogênio verde também podem ser mapeados em outros estados brasileiros. Estados como Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, além do Ceará, são os que se movimentam mais fortemente.
Germano Tremiliosi Filho, doutor em Ciência Química, professor e pesquisador do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC-USP), entende que o Brasil tem grande potencial na produção de hidrogênio e pesquisas desenvolvidas no País têm condições de elevar essa indústria em nível internacional.
O pesquisador é vice-coordenador do projeto “Uso eficiente de etanol para produção de hidrogênio e eletricidade”, desenvolvido no âmbito do Research Centre for Greenhouse Gas Innovation (RCGI), centro de pesquisa financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pela Shell.
Neste caso, a geração de hidrogênio ocorre a partir do etanol, por meio da reforma eletroquímica. Trabalha com a oxidação de álcoois e redução da água, consome 0,8 volts de energia.
Esse processo é diferente do caminho mais conhecido para a obtenção de hidrogênio, por eletrólise da água, que consome uma quantidade maior de energia, de praticamente 2 volts e é relativamente mais caro.
O professor destaca que essa seria uma alternativa a ser oferecida ao mercado e que interessa aos holandeses da Shell, mas que também já receberam contatos da Embaixada da Alemanha, que também busca contribuir com os estudos relacionados ao hidrogênio.
Ele, entretanto, afirma que as pesquisas sobre a produção de hidrogênio verde ainda são incipientes e se concentram nos bancos da academia, sendo ainda necessário um incentivo maior para iniciar sistemas em larga escala de produção.
Por isso, uma política abrangente é necessária. “Governos estrangeiros reconhecem que o Brasil tem um grande potencial de produzir hidrogênio verde. Então, é providencial que o governo incentive este vetor energético. Nosso país reconhece esta necessidade e iniciativas, ainda que sejam tímidas, estão sendo adotadas, como incentivo a pesquisa na área com financiamento por alguns órgãos de fomento”, pontua.
O Porto de Açu-RJ é outro exemplo, pois tem em seu planejamento estratégico a expansão do terminal multicargas (T-Mult) voltado à transição energética.
Neoenergia e Prumo (subsidiária da estadunidense EIG) assinaram memorando de entendimento para produção em parceria. Outra empresa que deve instalar planta industrial lá é a Shell Brasil.
Em Itaipu-PR, a Fundação Parque Tecnológico de Itaipu (PTI) já produz H2V há mais de dez anos, com operação de planta de produção para fins de pesquisa.
Pernambuco há outro exemplo relevante, com o Complexo Industrial Portuário de Suape, que assinou cinco memorandos de entendimento com empresas como Galp Energia, Casa dos Ventos/Nexway e Neoenergia.
Há ainda outros seis memorandos de entendimento a serem assinados por grupos empresariais interessados em estudos, produção, exploração e comercialização de H2V. São previstos mais de R$ 22 bilhões em investimentos.
As opções para substituir os combustíveis fósseis em toda cadeia industrial além do hidrogênio
Ao realizar um mapeamento dos projetos de investimentos no Brasil nos setores de energia, químico e combustíveis, é possível notar um movimento relacionado ao “verde”. A captura de carbono com uso de matérias primas de origem sustentável é o foco.
No Ceará, por exemplo, há a expectativa em torno da aquisição da CSP pela ArcelorMittal e a possibilidade de início de produção de aço verde.
Segundo o presidente da Cipp S/A, Hugo Figueirêdo, o píer 2 do porto cearense será reformulado para movimentação de amônia verde. Há ainda a perspectiva de que o investimento da Noxis Energy, de uma refinaria de petróleo no Pecém, prevê o desenvolvimento de uma planta de metanol verde a partir da oferta de H2V.
A ideia do CEO da Noxis, Gabriel Debellian, é atender as indústrias de biodiesel e plástico, além de mirar o potencial de desenvolvimento de soluções de combustíveis para o setor marítimo. Atualmente, o projeto da refinaria recebeu licença prévia e pode começar a construção neste ano, com perspectiva de começar a operação em 2026.
Já no Espírito Santo, a empresa canadense AmmPower está com projeto de instalação de uma planta industrial para produção de amônia verde, no Porto Central.
Outra iniciativa a ser destacada no País é a da indústria química Unigel em parceria com a empresa alemã thyssenkrupp, na Bahia. A ideia é a produção de hidrogênio verde e amônia verde, que serviriam de matéria prima para os produtos da industrial brasileira.
São três fases do projeto, totalizando US$ 1,5 bilhão em investimentos. A promessa da empresa é ser a primeira iniciativa do tipo em operação industrial no Brasil, já que as obras da planta já foram iniciadas. A produção deve fortalecer o portfólio de produtos sustentáveis da Unigel, de fertilizantes e acrílicos
Se Brasil não acabar com desmatamento ilegal, terá de pagar “multa ambiental” de trilhões de dólares
Se nas grandes potências europeias há uma corrida para descarbonizar suas matrizes de produção de energia elétrica ainda nesta década, no Brasil ainda se luta para iniciar o básico: eliminar o desmatamento ilegal.
E se o País pode ser considerado um líder no processo de transição energética, com a grande maioria de sua matriz produtora sendo limpa, o caminho para cumprir a promessa de ser neutro na geração de gases do efeito estufa até 2050 ainda é longo.
O estudo Programa de Transição Energética, da Cebri/ BID/ EPE/ Cenergia-Coppe/UFRJ, destaca que é fundamental eliminar o desmatamento ilegal como condição necessária para neutralidade em carbono, desenvolvendo em curto prazo novas dinâmicas no uso da terra.
A conclusão é clara: “Se até o fim desta década o país não conseguir eliminar o desmatamento ilegal, não há viabilidade técnica e realista para zerar os GEE até 2050, como prevê compromisso nacional no Acordo de Paris”.
De acordo com o relatório, eliminar o desmatamento ilegal significa evitar o lançamento na atmosfera de 21 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa até 2050. Caso isso não aconteça, o Brasil terá que arcar com um custo de compensação de até US$ 3,4 trilhões para atingir os compromissos assumidos.
Outro ponto abordado no relatório dá conta da diversificação da matriz energética, expandindo opções como biomassa, eólica e solar.
O perfil de emissões no Brasil é completamente distinto do perfil global. No mundo, o setor energético representa 76% das emissões totais líquidas de gases de efeito estufa. Já no País, onde quase metade da matriz é renovável, esse setor representa apenas 31% das emissões líquidas, e 18% das emissões brutas.
As pesquisas em desenvolvimento no Ceará
Os projetos de pesquisas relacionados ao hidrogênio verde já existiam antes de 2021, quando foi viabilizado de forma mais assertiva as perspectivas de investimentos bilionários no Estado. Mas a partir das assinaturas de contratos e parcerias, mais iniciativas se desenvolveram.
Na UFC, existem pesquisas na área do hidrogênio nos departamentos de Engenharia Química, Engenharia Mecânica e Engenharia Elétrica, que vão desde a separação de gases, transporte, armazenamento, como a produção de hidrogênio a partir de outros materiais.
Há, inclusive, um estudo conduzido pela pesquisadora da UFC, Fernanda Lobo, em parceria com as universidades norte-americanas Princeton e Columbia e com o Laboratório Nacional de Energia Renovável dos Estados Unidos, que demonstrou ser viável a produção de hidrogênio a partir do esgoto.
Neste caso, mudam os insumos (ao invés de energia eólica e solar, é usada matéria orgânica do esgoto) e também a metodologia, que é realizada através de bioeletroquímica (recente no meio acadêmico, não empregada no Brasil). Por enquanto, os resultados ainda estão em níveis laboratoriais, mas abre um importante leque de possibilidades para esse mercado.
Análise: Faltam planos e metas para o Brasil
O governo brasileiro mantém em processo de consulta pública um processo fundamental para o desenvolvimento da cadeia do hidrogênio no País: O Plano de Trabalho Trienal do Programa Nacional do Hidrogênio (2023-2025).
Em artigo publicado no O POVO, consultor de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e liderança da Câmara Setorial de Energias Renováveis (CSEnergias-CE), Jurandir Picanço, destaca que pouco se avançou desde julho de 2021, quando foi lançado o Programa Nacional de Hidrogênio (PNH2), do Ministério de Minas e Energia (MME).
“Foram criadas cinco comissões temáticas e elaborado o “Plano de Trabalho” dessas comissões. Ou seja, o plano para fazer o plano”, opina.
Ainda segundo Picanço, enquanto o Brasil demora, mais de 30 países, como Chile, Espanha e Alemanha, já desenvolveram seus planos “com metas claras e bem definidas”.
“No presente Plano de Trabalho Trienal não existe uma visão de futuro definida, nem um posicionamento sobre o papel que o Brasil irá exercer no setor global do hidrogênio”, acrescenta.
Para desenvolver o potencial mapeado no Brasil, é necessário acelerar, primeiramente, a regulação, além de correr com investimentos em infraestrutura e pesquisa para ter condições de capitalizar com a atração de investimentos internacionais e parcerias. Segundo observa o fundador da H2B Energy, Sergio Marques, a experiência do Brasil com biocombustíveis joga a favor.
“O Brasil tem potencial para se destacar no mercado de hidrogênio verde, já que possui recursos naturais abundantes, como sol e vento, que podem ser usados para gerar eletricidade renovável e produzir H2V”, pontua.
No entanto, ainda falta a regulamentação do H2V, para estabelecer padrões e incentivos para sua produção. Sergio observa que nenhum país na América Latina (inclusive alguns “concorrentes” neste mercado de H2V, como Chile, Colômbia e Uruguai) possui regulamentação, o que abre a possibilidade do Brasil liderar esse processo.
“Sem uma regulamentação clara, o mercado pode ser prejudicado pela falta de confiança e investimentos”.
MME explica estratégia federal
Em visita ao Ceará, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, prometeu o marco regulatório para a cadeia produtiva do hidrogênio verde para este ano. Ao O POVO, o Ministério de Minas e Energia (MME) enviou as seguintes respostas:
OP – Em visita ao Ceará, o ministro Alexandre Silveira, disse que o marco regulatório para o hidrogênio verde deve ser implementado em 2023. Como estão os trâmites desse processo?
MME – Essas questões estão sendo pensadas e elaboradas dentro do Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2), promovido pelo governo brasileiro, que visa a estruturar a governança dos stakeholders para o desenvolvimento de uma economia do hidrogênio de baixo carbono no Brasil. Todas as ações são pensadas a partir de seis eixos de ação: Fortalecimento das Bases Científico-Tecnológicas; Capacitação de Recursos Humanos; Planejamento Energético; Arcabouço Legal e Regulatório-Normativo; Abertura e Crescimento do Mercado e Competitividade e Cooperação Internacional.
Existem cinco Câmaras Temáticas no Programa, que, por meio do diálogo entre setor público, setor privado e academia, propuseram ações para temas específicos. Essas ações estão compiladas no Plano de Trabalho Trienal do 2023-2025 do PNH2, que se encontra disponível para recebimento de contribuições por meio da Consulta Pública MME 147/2022, cujo prazo vai até 28 de fevereiro.
As ações propostas para a área regulatória estão sendo discutidas no âmbito da Câmara Temática de Arcabouço Legal e Regulatório-Normativo do PNH2 e devem contribuir para o marco regulatório.
OP – De que forma o MME trabalha para a formação de uma indústria de hidrogênio verde no Brasil, a partir do potencial demonstrado por alguns estados, como o Ceará?
MME – O MME tem um compromisso de longa data com o incentivo ao desenvolvimento da economia de hidrogênio, que tem se pautado em uma abordagem de hidrogênio de baixo carbono. Nesse sentido, cabe destacar que o compromisso do governo brasileiro de construir uma economia de hidrogênio de baixo carbono inclui:
•20 anos de apoio à P&DI em hidrogênio de baixo carbono;
•Resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que define o hidrogênio como uma das áreas prioritárias para investimento público e público em P&DI energético, reforçando o apoio à P&DI;
•Pacto Energético Brasileiro sobre Hidrogênio estabelecido no Diálogo de Alto Nível da ONU sobre Energia;
•Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2), mencionado anteriormente.
Além disso, existem políticas públicas para renováveis no Brasil, que contribuirão para impulsionar a economia do hidrogênio de baixo carbono. Políticas como isenções fiscais ou diferenciais de impostos para renováveis e/ou na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) e infraestrutura, financiamento verde e fundos específicos para investimentos em renováveis e infraestrutura. Também há novos programas em discussão, como o Combustível para o Futuro (Célula a Combustível, Biocombustíveis Avançados, e-combustíveis etc.) e a precificação do carbono, que reforçarão programas já existentes, como o Rota 2030 e o RenovaBio.
OP – Algumas missões internacionais já visitaram o Brasil e tratam o H2V como prioridade. A principal visita foi a do chanceler alemão. De que forma o MME vê esse interesse internacional?
MME – A cooperação internacional é um dos eixos prioritários definidos pelo Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2) e o Brasil também tem se engajado na cooperação internacional em hidrogênio de baixo carbono. Exemplos disso são as participações na Hydrogen Initiative do Clean Energy Ministerial (CEM), e também sob a “Parceria de Energia Brasil-Alemanha” (o “H2 Brazil” no “Programa de Parceria Power-to-X Alemão-Brasileiro”), o “Programa de Energia Brasil-Alemanha Programa” e o Programa de Energia do Reino Unido Brasil.
Mercado: Comprando a CSP, ArcelorMittal recebe investimento de 460 milhões de euros para aço verde
Em meio aos planos de descarbonização, as empresas também se movimentam em busca dos chamados “créditos verdes” e financiamentos. A ArcelorMittal, por exemplo, teve aprovado 460 milhões de euros de apoio da Comissão Europeia para descarbonizar a produção de aço com hidrogênio.
A ideia da empresa é usar esse financiamento para descarbonizar a operação de produção de aço em Gijón, Espanha. O auxílio vai servir para construir uma usina renovável de ferro reduzido direto (DRI) baseada em hidrogênio, proveniente do gás expelido da produção (resíduos e gases metalúrgicos).
Segundo a vice-presidente executiva responsável pela política de concorrência, Margrethe Vestager, os 460 milhões de euros permitem que a Espanha apoie o plano da ArcelorMittal de descarbonizar seus processos de produção de aço.
“(A medida) Contribuirá para o esverdeamento de um setor com uso intensivo de energia, em linha com nosso compromisso de transição para uma economia zero emissões de gases do efeito estufa”.
A planta deve começar a operar em 2025, produzindo 2,3 milhões de toneladas de DRI de baixo carbono anualmente. A operação deve evitar a liberação de 70,9 milhões de toneladas de CO², além de que a ArcelorMittal se comprometeu a compartilhar o conhecimento técnico obtido com o projeto com outras indústrias de aço.
Vale lembrar que o conselho antitruste brasileiro aprovou o negócio de compra da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) pela ArcelorMittal. Portanto, a empresa europeia vai operar a planta localizada no Complexo do Pecém, onde também vão estar presentes os projetos de produção de hidrogênio verde no Ceará.
A ArcelorMittal já havia afirmado que irá promover em todas as suas operações a descarbonização dos processos, inserindo o aço verde na produção nos próximos anos.
HIDROGÊNIO ROSA
Um grupo de países liderado pela França busca introduzir no mercado europeu o hidrogênio “rosa”, que é quando o processo de eletrólise ocorre com uso de energia nuclear.
POLO H2V DO CEARÁ
O Ceará é uma região estratégica para a produção e exportação de hidrogênio para a Europa. E o desenvolvimento da oferta de energia proveniente de fontes renováveis se destaca. Há 10 anos, o Ceará tinha 21 parques eólicos, que somavam 27% da capacidade instalada da matriz energética do Estado. Atualmente são 98 usinas, que representam 48% da capacidade. Ainda há 26 fazendas solares, que representam 13% da matriz. Ou seja, somadas, as potências de geração eólica e solar, são mais de 70% da energia produzida pelo Ceará.
As 24 de empresas que possuem relação com o hub de Hidrogênio Verde do Pecém:
Pré-contrato assinado e investimentos
Fortescue: US$ 6 bilhões
EDP: US$ 3,8 bilhões
AES: US$ 2 bilhões
Memorandos de entendimentos assinados
Enegix Energy
QAIR
Neoenergia
Diferencial Energia
Eneva
H2Helium
Hytron
Engie
Transhydrogen Alliance
White Martins / Linde
Eren
Cactus Energia Verde
Casa dos Ventos
Stolthaven
H2 Green Power
Comerc / Nexway
Enel Brasil
HDF
ABB
Mitsui / Caetano Bus
Alupar
AS COMPOSIÇÕES
Tanto o processo de eletrólise da água quanto o de reforma eletroquímica do etanol são métodos para separação das moléculas de hidrogênio.
Composição do ETANOL: C2H5OH (CH3-CH2-OH)
Composição da ÁGUA: H2O (H-O-H)
O PROCESSO DE ELETRÓLISE DA ÁGUA: Realizado a partir de um eletrolisador, dispositivo também chamado de célula eletrolítica, o processo de eletrólise da água visa a decomposição da molécula de água (H2O) em seus componentes básicos: hidrogênio (H2) e oxigênio (O), por meio de eletricidade.
Neste processo, eletrodos (um lado positivo e outro negativo) são submersos em água e conectados a uma fonte de energia elétrica, como bateria ou gerador. Quando a eletricidade é aplicada aos eletrodos, os íons presentes na água começam a se mover em direção aos eletrodos opostos.
Dessa forma, a eletrólise da água separa a molécula de água em hidrogênio e oxigênio gasoso, que são coletados em diferentes compartimentos da célula eletrolítica.
A REFORMA ELETROQUÍMICA DO ETANOL: Neste processo, ocorre a decomposição do etanol (C2H5OH) em hidrogênio (H2) e dióxido de carbono (CO2) usando eletricidade por meio de uma célula eletrolítica especializada chamada célula de reforma direta de etanol (DERS, na sigla em inglês).
O DERS é um ânodo de platina, um cátodo de platina e um eletrodo de referência. O etanol é adicionado ao anodo, que é separado do cátodo por um eletrólito de membrana. Aí, quando uma corrente elétrica é aplicada aos eletrodos, o etanol é oxidado no ânodo, produzindo hidrogênio, dióxido de carbono e elétrons.
Os elétrons produzidos na reação de oxidação são conduzidos por um circuito externo para o cátodo, onde o hidrogênio é produzido a partir de redução de prótons (H+) presentes no eletrólito. Assim, a partir da reação no ânodo, o dióxido de carbono produzido é liberado de forma gasosa, enquanto o hidrogênio produzido é coletado.
Fonte: O Povo