Reflexões sobre o impacto da inteligência artificial na Saúde
“A inteligência artificial não irá substituir os médicos. Mas os médicos que usam a inteligência artificial irão substituir os que não usam.”
(Bertalan Meskó, médico e director do The Medical Futurist Institute)
A inteligência artificial (IA) é, indiscutivelmente, uma das palavras da moda (buzz word) e representa uma realidade nova, inevitável e revolucionária. Como todos os grandes avanços tecnológicos, por exemplo a internet, se os benefícios parecem exponenciais, as consequências dependem de como será utilizada e, sobretudo, regulamentada. Torna-se, assim, imperioso que saibamos antecipar as vantagens e precavermo-nos da utilização prejudicial, abusiva e maliciosa da IA.
Prevê-se que a implementação da IA ocorra de uma forma progressiva e faseada, contudo é inquestionável que uma das áreas com maior potencial seja a Saúde. O sector da Saúde deverá constituir uma das áreas prioritárias e de excelência da IA e a História prova que os saltos tecnológicos tiveram sempre a capacidade de mudar o pensamento médico. A este propósito, convém recordar Lawrence Weed, reputado médico falecido em 2017, responsável pelo registo médico orientado por problemas e apologista de que o modo como os médicos estruturam a informação afecta o seu pensamento.
É expectável que a IA tenha a capacidade de redefinir a prestação de cuidados médicos, do tratamento à prevenção da doença e à promoção da Saúde, acelerando o desenvolvimento de novos fármacos e dispositivos, bem como a implementação de ferramentas inovadoras de rastreio, diagnóstico e monitorização, no caminho de uma medicina cada vez mais personalizada. O crescimento da IA na Saúde é já uma realidade e na última actualização da agência americana FDA (Food and Drug Administration), em Agosto de 2024, estavam autorizados 950 dispositivos médicos habilitados com IA.
Além de questões éticas e deontológicas, a IA coloca importantes desafios na formação médica (pré e pós-graduada) e, numa perspectiva mais abrangente, na capacidade de gerar conhecimento em resultado da análise de dados agrupados de centenas de milhares de doentes nacionais. É imperioso que Portugal não se limite de uma forma passiva a recolher dados que terceiros terão a capacidade ou a oportunidade exclusiva de analisar.
No nosso país, na ausência de uma estratégia de investimento e de uma política de valorização dos recursos humanos e técnicos, a IA pode contribuir para o agravamento das desigualdades no acesso à Saúde e na qualidade dos cuidados prestados.
À semelhança do que tem acontecido com outros avanços tecnológicos, é previsível que a IA seja mais fácil e rapidamente implementada no sector privado, em comparação com o sector público. A IA funcionaria, deste modo, como um factor extra de atracção e retenção de médicos e outros profissionais de Saúde, a par de chamariz para os utentes/doentes com maior poder de compra.O atraso na utilização da IA no Serviço Nacional de Saúde será uma vantagem competitiva significativa para o sector privado, com o risco de “os médicos que usam a IA no sector privado substituam os médicos que não têm acesso à IA no sector público”.
Fonte: Diário de Notícias em 13.10.2024
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