Como as novas gerações estão transformando as Relações Institucionais e Governamentais? por Josbertini Clementino
A área de Relações Institucionais e Governamentais (RIG), tradicionalmente marcada por relações formais e atuação discreta nos bastidores do poder, está passando por uma verdadeira transformação.
Novas gerações de profissionais, aliadas ao avanço da tecnologia e à valorização de princípios como transparência, diversidade e engajamento cívico, estão reformulando profundamente a forma como empresas, governos e sociedade civil dialogam no Brasil.
Essa transformação no setor de Relações Institucionais e Governamentais (RIG) não é apenas percebida no cotidiano das organizações, mas também vem sendo documentada por veículos de grande circulação. Um exemplo é a matéria publicada pelo Estadão em fevereiro de 2025, intitulada “Profissão lobista: empresas batem recorde nas contratações e setor de lobby fica mais jovem”, disponível no link: https://abrir.link/RnFXN.
O conteúdo revela que RIG no Brasil está vivenciando um momento de forte expansão, com números recordes de contratações, inclusive por empresas que, até então, não mantinham estruturas dedicadas à área. Um dos pontos centrais da reportagem é a diminuição da média de idade dos profissionais, indicando uma renovação geracional em curso, impulsionada pela entrada de jovens com formação sólida, fluência digital e visão estratégica mais ampla sobre o papel da atividade institucional.
Segundo o Estadão, essa nova geração de lobistas e especialistas em RIG vem ocupando espaços estratégicos nas empresas e entidades, principalmente em pautas de alta complexidade, como a reforma tributária. Esse tema, que foi um dos que mais mobilizou o setor ao longo de 2024, exigiu atuação técnica, articulação com diferentes níveis de governo e diálogo com múltiplos stakeholders, gerando um campo fértil para um perfil mais dinâmico, analítico e comunicativo desses novos profissionais.
Mais do que uma questão etária, o que se observa é uma mudança de mentalidade e de abordagem, com práticas mais orientadas por dados, compromisso com a transparência e atuação pautada pautada por valores contemporâneos, em consonância com o que a sociedade espera de líderes públicos e corporativos.
Além dos pontos trazidos pela matéria, compartilho algumas considerações complementares para enriquecer este artigo e fomentar o debate sobre o papel das novas gerações no setor de RIG.
1. A chegada de uma nova geração ao centro da influência institucional
A presença crescente de jovens nas equipes de RIG representa mais do que uma renovação demográfica. Trazem novas práticas, linguagens e repertórios, mudando o modo como se faz interlocução com o poder público.
Esses profissionais também vêm com fortes convicções em torno de temas como ética, diversidade, responsabilidade social e impacto positivo. Com isso, as pautas ambientais, sociais e de governança (ESG) ganham maior protagonismo, não apenas como temas a serem defendidos, mas também como princípios norteadores da atuação institucional.
2. Tecnologia e participação digital: o novo ambiente do RIG
A atuação em RIG foi profundamente impactada pela transformação digital. Plataformas e empresas/organzações como Sigalei, Inteligov, DataPolicy e Legisla Brasil oferecem soluções robustas de monitoramento legislativo automatizado, gestão de stakeholders, painéis de inteligência de dados, suporte à comunicação institucional, dentre tantas outras. Esses recursos tornaram-se indispensáveis para profissionais que atuam em ambientes regulatórios dinâmicos e complexos.
O uso estratégico de newsletters, podcasts, dashboards e conteúdo digital aproxima o RIG do público interno e externo, dá visibilidade à atuação da empresa e fortalece sua reputação institucional. O domínio de novas linguagens, formatos e narrativas passou a ser um diferencial competitivo para quem deseja construir influência legítima em um ambiente plural, transparente e em constante transformação.
3. Um setor em ascensão: os dados do Anuário ORIGEM
Outro indicativo da consolidação do RIG é o Anuário ORIGEM idealizado por Rodrigo Navarro e outros especialistas, que traz o perfil dos principais profissionais da área. A publicação vem revelando um setor em crescimento acelerado, com atuação cada vez mais estratégica em grandes empresas, entidades setoriais, escritórios de advocacia e organizações do terceiro setor.
O anuário em 2024, patrocinado pela ABRIG Relações Governamentais e outras organizações e empresas, mostra um perfil mais diverso e qualificado de profissionais, com destaque para a atuação técnica, a construção de narrativas institucionais e a defesa ética de interesses legítimos. RIG deixa, assim, de ser uma função periférica e assume papel central na estratégia organizacional.
4. Considerações complementares: o que mais está em jogo?
Além dos dados e tendências já apresentados, é importante considerar outros elementos que reforçam o impacto dessa nova geração sobre o setor:
Formação multidisciplinar: Os novos profissionais vêm de áreas como ciência política, relações internacionais, direito, administração pública e comunicação, trazendo olhares mais amplos para os desafios institucionais.
Interesse por propósito: Muitos desses jovens não se envolvem apenas por carreira, mas por acreditar no poder transformador da política pública e da interlocução institucional bem feita.
Nova cultura organizacional: Em muitos casos, são esses profissionais que impulsionam mudanças internas nas empresas, provocando maior alinhamento entre o discurso institucional e a prática social.
Abertura à intersetorialidade: A nova geração enxerga o RIG como espaço de construção coletiva, promovendo parcerias entre empresas, governos, universidades e sociedade civil, com foco na geração de valor compartilhado.
Essa renovação é, ao mesmo tempo, desafio e oportunidade. Cabe às organizações se adaptarem e garantirem espaço real para esses novos atores, reconhecendo que RIG do futuro já começou, e é jovem, digital, ético e orientado por impacto!
E na sua Empresa e/ou Organização, RIG já está preparado para essa nova geração de influência institucional?
Por Josbertini Clementino
Especialista e Consultor em RelGov l Gestão de Projetos e Stakeholders l Políticas Públicas l Consultoria em Relações Institucionais e Governamentais l Conselheiro de Administração IBGC l Regulatório l Advocacy