Para especialistas, imprevisibilidade da pandemia deixa lições para o comércio exterior em 2021
A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) provocou impactos na economia mundial, sobretudo pela imprevisibilidade de uma doença até então desconhecida. Não por outra razão que para o diretor da Solve Shipping Intelligence Specialists, Leandro Barreto, a imprevisibilidade e a volatilidade na demanda foram as duas palavras que melhor resumiram o comércio exterior em 2020. De acordo com ele, uma das principais lições deixadas pela pandemia está no entendimento de que o “efeito manada” no comércio foi ruim, independente dos resultados positivos ou negativos.
Barreto destaca que neste contexto, a pauta de exportação do Brasil se mostrou bastante . Segundo ele, todas as previsões de queda no segundo trimestre de 2020 foram equivocadas. “Ocorreu, mas menor do que a maioria estava esperando”, pontuou. Um dos fatores para o baixo impacto nas exportações está no bom desempenho em commodities, como produtos essenciais e alimentos.
Depois dessa leve queda no primeiro momento, houve uma retomada no terceiro trimestre do ano que, para Barreto, revela a grande volatilidade da demanda mundial. “A pandemia acabou dando um nó na logística em todo o mundo”, diz.
Já as importações brasileiras sofreram um forte impacto. Segundo ele, mais de 28 navios cancelaram viagens, com destaque para a rota da Ásia. No auge da pandemia, essa região vivenciou um lockdown que manteve todo o comércio fechado. Assim, no segundo trimestre do ano na importação o Brasil seguiu a mesma tendência mundial.
A partir do terceiro trimestre houve uma forte recuperação que se refletiu diretamente no custo dos fretes. Ele informou que em junho de 2020 os fretes ficaram abaixo de 300 dólares, subindo para dois mil dólares em setembro e fechando o ano em oito mil dólares.
Outro grande aprendizado deixado por 2020, para Barreto é a necessidade de diversificação de fornecedores e clientes. Ele ressaltou que o Brasil ainda é muito dependente da China em vários produtos. “Aliás, o mundo percebeu que está muito dependente”, frisou.
Para o presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, embora os novos acordos comerciais sejam importantes para o país, não surtirá o efeito esperado se o Brasil não abrir sua economia e reduzir o chamado ‘Custo Brasil’. “Não adianta fazer comércio com a Coréia, Indonésia, China ou Estados Unidos. É preciso antes fazer as reformas tributárias e administrativas, além de realizar investimentos em infraestrutura”, afirmou Castro.
Ele acredita que 2021 haverá crescimento na exportação de commodities, mas avalia que o ideal seria o país investir mais na exportação de manufaturados que, segundo ele, representa apenas 25% do comércio exterior atualmente.
A respeito dos efeitos da segunda onda da Covid-19 sobre o comércio exterior brasileiro, Barreto afirmou que ainda não é possível afirmar, porém, alguns navios de exportação já começaram a sair um pouco mais vazios. Porém, por outro lado, nesta época do ano é mais comum que isso aconteça.
Diante desse cenário, Barreto enfatizou também que cada vez mais os fluxos internacionais de cargas vêm se tornando um importante indicador econômico. Desse modo, segundo ele, observando as capacidades dos navios, por exemplo, é possível sentir a temperatura do comércio exterior.
Fonte: ABOL