A pegada global de Portugal
Portugal é um dos mais antigos países da Europa, a sua afirmação enquanto povo e enquanto nação é distinta dos restantes povos europeus e esse é um dos principais fundamentos da sua identidade e independência.
A partir de meados do século XV os portugueses iniciaram uma aventura marítima de azimute transoceânico, que abriu novas rotas de navegação e permitiu a descoberta e o encontro entre povos e civilizações de diferentes continentes.
Tanto a independência de Portugal como a sua expansão intercontinental foram sobretudo fruto das capacidades diplomáticas do país, por meio de delicadas alianças, mediações, tratados e acordos com outras nações europeias, asiáticas e africanas.
Os portugueses foram capazes de influenciar várias culturas e deixar uma marca que não se desvanece com o passar dos séculos, seja em África, na América ou na Ásia. O caldeamento dessas culturas e a sua disseminação intercontinental deu lugar à gestação de uma “cultura-mundo”, conceito que tem vindo a ser desenvolvido por Gille Lipovetsky1.
Portugal tem no mundo uma pegada global, impressa ao longo de sucessivas vagas de migrações, ocorridas durante os últimos 5 séculos. Ainda hoje a diáspora portuguesa é a que tem maior peso relativo no contexto europeu. Portugal é o primeiro país da União Europeia com mais emigrantes em percentagem da população e o oitavo do mundo2. Em cada 3 portugueses, um vive fora de Portugal. Segundo, o último relatório do Observatório da Emigração, há mais de 2,6 milhões de cidadãos portugueses que nasceram em Portugal a viver no estrangeiro, o valor mais alto desde 1960, para uma população total de 10,3 milhões3. Acresce, que segundo dados oficiais, cerca de 3,3 milhões de pessoas têm cartão de cidadão português, mas residem no estrangeiro. Desses, um milhão e seiscentos mil estão recenseados como eleitores portugueses. Estimativas apontam para a existência de aproximadamente 6 milhões de portugueses e lusodescendentes a viver no estrangeiro.
A diáspora portuguesa, em particular os lusodescendentes de segunda, terceira e até de quarta geração, resultantes das vagas migratórias ocorridas durante o século XX, quer seja para África, para a América ou para a Europa, graças às oportunidades abertas fruto do trabalho árduo e de uma vida construída com grande sacrifício pelas suas famílias, tiveram a possibilidade de estudar e de ascender profissional e socialmente, mas mantendo uma ligação emocional forte a Portugal e tendo orgulho nas suas raízes lusófonas.
Acresce a isso, a vaga de emigração qualificada mais recente, ocorrida durante os anos da crise financeira e da consequente crise das dividas soberanas. Só entre 2011 e 2015 saíram de Portugal mais de meio milhão de portugueses rumo à emigração5.
A confluência destes fatores leva a que o retrato socioprofissional das novas gerações de lusodescendentes e de portugueses a residir no estrangeiro, onde se incluem os expatriados portugueses, que trabalham em empresas e organizações internacionais, seja muito diferente de épocas passadas e permita afirmar que a diáspora portuguesa é hoje a mais qualificada de sempre.
Sinal do upgrade do perfil socioprofissional e socioeconómico das comunidades portuguesas no estrangeiro é, ainda, o aumento das remessas enviadas para Portugal, que de 2017 a 2021, registou os valores mais altos das últimas duas décadas e desde a criação da moeda única: com um valor anual acima dos 3 mil milhões de euros, segundo dados do Banco de Portugal6. Um valor superior à atração de Investimento Direto Estrangeiro, que no seu melhor ano de sempre – 2021 – foi de 2,7 mil milhões de euros7.
Acresce, que as remessas dos imigrantes portugueses, desde 1975 até 2021, perfizeram 133 mil milhões de euros8, o que significa que se equiparam ao financiamento da União Europeia a Portugal9.
A conclusão a retirar é clara: a diáspora portuguesa tem sido uma das maiores fontes de financiamento externo do sistema financeiro e da economia portuguesas. No entanto, tem merecido uma infinitésima parte dos recursos e da atenção por parte dos poderes públicos em Portugal, a começar pelo governo.
Com a massificação das novas tecnologias da informação e comunicação, a digitalização e desmaterialização de serviços, o comércio eletrónico, e as redes sociais, os portugueses a viver no estrangeiro e lusodescendentes estão mais conectados entre si e a Portugal. A intensidade do seu relacionamento com o país tem vindo a aumentar, não só por via do número crescente de viagens a Portugal, da aquisição de bens e serviços portugueses, dos investimentos imobiliários e outros realizados em Portugal, mas também pela participação e apoio em eventos internacionais onde portugueses marcam presença, seja no campo desportivo, artístico e cultural, onde se tem verificado um apoio massivo das comunidades portuguesas e lusodescendentes.
Sendo a diáspora portuguesa um poderoso instrumento de “soft power”, deve passar a constituir uma prioridade da política externa portuguesa, em particular ao nível da diplomacia económica e da estratégia de internacionalização. A diáspora portuguesa, tanto no “network” no mundo dos negócios, como no contexto político de cada país onde se faz representar, onde se contabilizam mais de 600 eleitos para funções públicas em dezenas de países, pode ser um elemento influenciador e facilitador do crescimento da economia portuguesa e da relevância da política externa portuguesa.
Contam-se hoje na diáspora portuguesa e luso-descendente, empresários de grande dimensão, que podem ser aliados estratégicos do Estado português, quer na atração de investimento estrangeiro, quer no incremento das exportações, quer mesmo para o desenvolvimento de parcerias e “joint-ventures”, que concorram para o aumento dos níveis de internacionalização da economia portuguesa.
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Fonte: Portugal Soft Power