Aldeia Global, por Rômulo Alexandre Soares
Fixei-me na semana passada na terceira biografia de um cearense que não conheci. Depois de ter folheado há alguns anos o Barão de Studart dar cores à vida de Martim Soares Moreno e, um pouco antes, percorrer os capítulos da vida de Virgílio Távora, agora era a vez de Lira Neto me introduzir à vida e obra de Edson Queiroz, na sua jornada de pouco mais de 50 anos.
Eu já havia lido outras biografias de cearenses que admiro, como a de José Dias de Macedo e de Ivens Dias Branco. Mas como eu fui testemunha ocular de parte das histórias dos dois últimos, olhei nos olhos e ouvi as vozes de ambos, tive uma conversa diferente com as suas narrativas. Edson, ao contrário, era completamente estranho para mim, porque só conhecia superficialmente e, ainda assim, de ouvir dizer.
Trago a biografia do fundador da Nacional Gás Butano e da UNIFOR, dois de seus inúmeros negócios, porque ela enreda o artigo que queria escrever há algumas semanas sobre a internacionalização da economia do Ceará e a lição que grandes empresários cearenses nos deram para insistirmos numa agenda de atração de investimento externo.
Não consigo articular os ditos negócios estratégico para o Ceará, como hidrogênio verde ou economia do mar, sem pensá-los numa estratégia global. Da mesma forma que o Ceará precisa se embrenhar no interior agrícola do Brasil, precisa navegar pelo Atlântico e desembarcar em novos mercados.
Edson foi um cidadão do mundo. A sua obra parece se conectar com a virtude de observar o que se fazia fora do Ceará e fortalecer laços com empresas e pessoas de outros estados e países, fazendo com que a economia do Ceará dialogasse para além das suas fronteiras. O percurso dele é, de certa forma, o mesmo que Beto Studart fez para, não só se tornar um dos maiores importadores cearenses de matéria prima para abastecer a sua indústria já de alcance nacional de defensivos agrícolas, como vendê-la em seguida para australianos. Caminho igual ao de Fernando Cirino Gurgel, que inserido numa cadeia global de suprimentos, exportava peças para a indústria automobilística e trouxe novos investidores estrangeiros para o negócio.
Agora que assumiu um novo governo no estado, é didático afirmar que segurança jurídica e ambiente favorável ao capital externo são valores da nossa economia e precisam ser preservados. Se olharmos para trás, veremos que a atração de investimento estrangeiro provocou uma transformação na nossa cadeia de produção e de comércio exterior.
Em menos de trinta anos as trocas comerciais do Ceará com o mundo saltaram de pouco mais de US$ 900 milhões para US$ 7.2 bilhões e passamos a conviver com mais de 7 mil empresas cearenses com sócios estrangeiros.
Se olharmos à volta, é fácil perceber que algumas das maiores vocações econômicas do Ceará do futuro estão marcadas pela conexão internacional que lhes dá vitalidade. O sucesso do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, da economia voltada para a transição energética e da economia do mar do Ceará dependem da qualidade da relação entre o Ceará e o mundo.
Por Rômulo Alexandre Soares