Boicote à carne do Mercosul, por Beatriz Sidrim, sócia da CBPCE
A decisão do Carrefour França de suspender a compra de carne do Mercosul trouxe à tona questões essenciais sobre equilíbrio comercial e reciprocidade econômica. Anunciada como um gesto para apoiar os agricultores franceses, a medida gerou indignação nos países do Mercosul, especialmente no Brasil, maior exportador da região. Para muitos, essa escolha soa mais como protecionismo disfarçado do que como uma legítima preocupação com o setor agrícola local.
A resposta brasileira foi imediata. Grandes fornecedores, como JBS e Marfrig, interromperam o abastecimento de carne para a rede Carrefour no Brasil, afetando suas operações nacionais. Essa retaliação escancara a interdependência das cadeias globais de suprimento e coloca em xeque a estratégia de separar as políticas da matriz francesa das subsidiárias internacionais. Além disso, reforça a necessidade de o Brasil adotar uma postura mais firme em relação à reciprocidade econômica, como sinalizou o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira.
No centro desse debate está a relação entre o protecionismo europeu e os interesses do Mercosul. A medida unilateral do Carrefour não apenas compromete os laços comerciais, mas também ignora a qualidade e a sustentabilidade da produção de carne no Brasil. É um lembrete de que o discurso ambiental pode, por vezes, servir de justificativa para práticas desleais que mascaram interesses econômicos e políticos.
Para o Carrefour, o impacto pode ser maior do que para os exportadores do Mercosul. A interrupção de fornecimento, associada à percepção negativa do público e às possíveis medidas legislativas, representa um desafio significativo à reputação da empresa. Para o Brasil, este é um momento de reafirmar seu papel como parceiro comercial estratégico, reforçando a necessidade de acordos internacionais que promovam um comércio mais justo e equilibrado.
O episódio destaca um dilema que ultrapassa as fronteiras da França e do Brasil: como equilibrar o protecionismo doméstico com a cooperação internacional? Nesse contexto, as políticas comerciais precisam ser norteadas pelo entendimento mútuo, evitando que decisões unilaterais gerem impactos globais desproporcionais. A diplomacia econômica deve atuar como mediadora, promovendo um equilíbrio que permita o avanço de todos os lados.
BEATRIZ SIDRIM
Jurista e CEO da Destinos Objetivos, empresa sócia da CBPCE
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