Como construir confiança em um ambiente de desconfiança? por Josbertini Clementino
Ao longo da minha carreira, ocupando posições estratégicas no Governo, Parlamento e Terceiro setor, enfrentei um grande desafio de construir confiança em cenários complexos.
Trabalhei em ambientes marcados pela polarização, interesses conflitantes e, muitas vezes, desconfiança generalizada. Em todos esses contextos, ficou evidente que confiança não é algo que simplesmente se tem; é construída com consistência, empatia e, acima de tudo, credibilidade.
Confiança é a moeda mais valiosa nas Relações Institucionais e Governamentais (RelGov) – e também a mais escassa.
Este artigo é para você, profissional de Relações Institucionais e Governamentais (RelGov), que já enfrentou dificuldades em estabelecer um diálogo aberto e produtivo com stakeholders ou em defender pautas em um ambiente onde o ceticismo prevalece.
Meu objetivo aqui é oferecer reflexões e estratégias práticas, fundamentadas em experiências reais, para ajudá-lo a superar essas barreiras e construir pontes sólidas de confiança.
Confiança, no entanto, não é apenas um objetivo abstrato: é uma ferramenta prática que pode transformar sua atuação e aumentar sua capacidade de influenciar decisões que impactam a sociedade.
1. Transparência: um alicerce insubstituível
No universo de RelGov, transparência não é uma escolha; é uma necessidade. Seja ao negociar com autoridades públicas, seja ao interagir com organizações da sociedade civil, deixar claros os objetivos e intenções de uma proposta é essencial para quebrar barreiras de desconfiança.
Durante minha atuação no Ministério do Trabalho, por exemplo, enfrentei resistência inicial ao propor ajustes em programas de qualificação profissional. Ao apresentar dados claros sobre os benefícios e limitações das mudanças sugeridas e prevê cenários com evidências consistentes, consegui não apenas reverter o ceticismo, mas também engajar os stakeholders como aliados no processo de implementação.
A transparência deve ir além do discurso, precisa estar presente em todas as etapas do processo, desde a coleta de informações até a prestação de contas sobre os resultados obtidos.
2. Empatia: a arte de enxergar pelo olhar do outro
Em minha trajetória, percebi que muitos conflitos e resistências poderiam ser evitados se houvesse mais empatia no campo de contrução das relações que não é percebido na superficialidade.
Isso significa entender os receios, interesses e prioridades das pessoas com quem está dialogando.
Uma experiência que me marcou foi em um projeto de desenvolvimento territorial, onde enfrentei resistência de lideranças comunitárias em relação a políticas públicas voltadas para a juventude e mulheres. Em vez de insistir no discurso técnico, priorizei ouvir suas preocupações e incorporar suas sugestões ao projeto. Esse processo de escuta ativa foi transformador, convertendo a desconfiança inicial em uma parceria sólida.
Empatia não é fraqueza; é uma estratégia de muito poder que fortalece relacionamentos e cria uma base sólida para negociações futuras.
3. Consistência: a base da reputação profissional
Confiança não sobrevive sem consistência. Cumprir compromissos, grandes ou pequenos, é o que diferencia um profissional confiável de um que gera dúvidas.
Em minha experiência, percebi que compromissos não cumpridos, mesmo que involuntários, criam barreiras que são difíceis de superar.
Em um dos projetos que coordenei para mobilização, estabelecemos um cronograma claro com prazos e entregas específicas. Ao garantir que cada compromisso fosse honrado, construímos uma reputação que facilitou a implementação de iniciativas mais complexas no futuro.
Seja pontual, cumpra prazos e evite prometer o que não pode entregar. A consistência é o que transforma palavras em ações e ações em confiança.
4. Relacionamentos antes da crise
A confiança mais duradoura é construída nos momentos de calmaria, não durante as crises. Em minha atuação como Secretário de Estado, adotei a prática de manter reuniões regulares com parceiros estratégicos, mesmo quando não havia demandas imediatas.
Esse esforço constante de relacionamento criou um ambiente de colaboração que foi essencial para resolver crises de forma rápida e eficiente.
Quando a confiança é construída com antecedência, funciona como um escudo em momentos de pressão.
Como profissional de RelGov, dedique tempo a criar relacionamentos sólidos antes que eles se tornem essenciais, pois não apenas facilitará a solução de problemas futuros, mas também posiciona você como um interlocutor confiável.
5. Comunicação clara e alinhada aos valores
A desconfiança muitas vezes surge de mensagens mal interpretadas ou desalinhadas com os valores dos stakeholders.
Em um ambiente de constante polarização, comunicar-se de forma clara e alinhada aos interesses coletivos é um diferencial competitivo.
Ao trabalhar em políticas públicas de impacto socioeconômico, sempre me preocupei em traduzir informações complexas em mensagens acessíveis, conectando-as aos valores e prioridades das pessoas envolvidas. Essa clareza não apenas reforçou a confiança, mas também aumentou a adesão às iniciativas propostas.
Confiança é um processo contínuo, que nunca deve deixar de ser semeada!
Construir confiança em um ambiente de desconfiança exige mais do que boas intenções; exige estratégia, consistência e empatia.
Para nós, profissionais de Relações Institucionais e Governamentais, dominar essa habilidade é essencial para alcançar resultados que vão além das expectativas.
Por: Josbertini Clementino
Sócio CBPCE, Especialista e Consultor em RelGov l Gestão de Projetos e Stakeholders l Políticas Públicas l Consultoria em Relações Institucionais e Governamentais l Conselheiro de Administração IBGC l Regulatório l Advocacy.