Diretores da CBPCE assinam artigos no jornal O Povo e abordam temas estratégicos para o Brasil e Portugal
Diretores da Câmara Brasil Portugal no Ceará (CBPCE) participaram recentemente de uma edição do jornal O Povo, assinando artigos de opinião sobre temas que dialogam diretamente com o presente e o futuro das relações econômicas e institucionais entre Brasil e Portugal, além dos desafios globais de inovação.
Rômulo Alexandre Soares, diretor de Relações Institucionais da entidade, destacou em seu artigo as novas fronteiras marítimas do Brasil no Atlântico, resultado de uma importante decisão da ONU e seus impactos estratégicos. Já Patrícia Campos, diretora Jurídica da CBPCE, abordou as oportunidades que Portugal oferece para além dos vínculos afetivos, apresentando o país como um ambiente promissor e seguro para negócios brasileiros na Europa. E, por fim, Décio Simões, diretor de Inovação e Tecnologia, analisou o avanço da Inteligência Artificial no setor de serviços em Portugal, evidenciando como a transformação digital está redesenhando modelos operacionais e criando vantagens competitivas.
Confira, a seguir, a íntegra dos artigos publicados
Novas fronteiras do Brasil no atlântico, por Rômulo Alexandre Soares Diretor de Relações Institucionais da CBPCE
A história da construção territorial do Brasil é, em grande parte, uma narrativa terrestre, após uma grande epopeia marítima portuguesa e sequências de importantes bandeiras. Desde o Tratado de Tordesilhas, passando pela genialidade de Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid de 1750, o país consolidou-se como potência continental. O século XXI, porém, convida a revisitar essa trajetória sob nova perspectiva: a marítima.
Essa reflexão surge da decisão da Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC), órgão da ONU, que reconheceu ao Brasil soberania sobre 360 mil km² adicionais na Margem Equatorial — área que vai da foz do Oiapoque ao norte do Rio Grande do Norte. Esse marco resulta de décadas de trabalho técnico da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), via Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (Leplac), iniciado nos anos 1980.
A conquista da Margem Equatorial é novo capítulo da saga territorial brasileira, agora em sua “dimensão azul”. Reafirma a soberania sobre uma zona estratégica, rica em biodiversidade e recursos como petróleo e minerais marinhos. Também projeta o Brasil no Atlântico Sul, região cada vez mais relevante frente aos novos corredores logísticos e às mudanças climáticas.
Tal como Alexandre de Gusmão projetou interesses lusos no século XVIII, o Brasil hoje o faz por meio da diplomacia científica e do direito internacional. Nesse contexto, cresce a importância de integrar a mentalidade oceânica às políticas públicas, à pesquisa científica e à educação nacional, reconhecendo o papel estratégico do mar para o futuro do país.
Mas a jornada não terminou. Segue pendente o pleito sobre a Elevação do Rio Grande, cadeia submersa no Atlântico Sul que o Brasil reivindica como extensão natural de seu território.
Essa ampliação da soberania marítima impõe dilemas. A exploração de hidrocarbonetos na Margem Equatorial traz alertas ambientais e exige equilíbrio entre desenvolvimento e conservação.
A nova fronteira do Brasil é azul. E sua conquista dependerá, mais uma vez, menos da força e mais da inteligência.
Portugal para além do afeto, por Patrícia Campos, Diretora Jurídica da CBPCE
Brasil e Portugal compartilham uma história rica, entrelaçada por laços linguísticos, culturais, emocionais e institucionais. No entanto, mais do que a afinidade que une nossos povos, Portugal representa hoje uma das mais sólidas e acessíveis portas de entrada para o mercado europeu, oferecendo um ambiente fértil para empresas e investidores brasileiros.
Ambos os países têm explorado oportunidades bilaterais com foco em inovação, sustentabilidade e expansão internacional, impulsionando novas conexões econômicas. Com localização estratégica na Península Ibérica, Portugal é o ponto de conexão com mais de 450 milhões de consumidores da União Europeia. Sua estabilidade política, a segurança pública de alto padrão e a excelente qualidade de vida o tornam um destino altamente atrativo para negócios de médio e longo prazo. É o 7º país mais seguro do mundo, de acordo com o Global Peace Index, e um dos líderes em proteção digital, ocupando a 4ª posição global em cibersegurança.
Além disso, Portugal conta com uma infraestrutura moderna e eficiente, com cabos submarinos de dados, rede logística internacional, aeroportos conectados aos principais centros financeiros globais e sistemas tecnológicos avançados. Soma-se a isso uma força de trabalho qualificada, com universidades de excelência e o 3º maior número de engenheiros diplomados da Europa, atraindo empresas inovadoras e startups de base tecnológica. Sua economia diversificada abrange setores como turismo, energias renováveis, tecnologia da informação, agronegócio, imóveis, biotecnologia, indústria de base e mineração. O potencial de cooperação com empresas brasileiras é enorme.
A Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (Aicep) atua como facilitadora da internacionalização, oferecendo consultoria, inteligência de mercado e apoio técnico à instalação de negócios estrangeiros no país.
É o momento ideal para fortalecer os laços entre Brasil e Portugal, ampliando fronteiras com segurança, inovação e visão estratégica. Portugal não é apenas uma ponte para a Europa, mas um parceiro estável e confiável para crescer.
Automação dos serviços em Portugal, por Décio Simões, Diretor de Inovação e tecnologia da CBPCE
A Inteligência Artificial (IA) está a transformar profundamente o setor de serviços em Portugal, reconfigurando desde o atendimento ao cliente até os processos operacionais mais complexos. Trata-se de uma mudança estrutural, impulsionada pela aceleração digital e pela necessidade crescente de competitividade, escalabilidade e eficiência.
Entre os exemplos mais visíveis, está o uso de chatbots e assistentes virtuais, amplamente adotados por empresas como NOS e EDP. Essas soluções, baseadas em IA, oferecem atendimento contínuo, 24 horas por dia, com alto grau de precisão, reduzindo custos com call centers tradicionais e melhorando substancialmente a experiência do cliente, ao mesmo tempo em que garantem escalabilidade sem comprometer a qualidade do serviço.
Nos bastidores, a combinação de IA com RPA (Automação Robótica de Processos) tem revolucionado rotinas administrativas. Instituições como o Banco BPI já automatizam tarefas repetitivas — como processamento documental, reconciliações e análises de dados — permitindo que os colaboradores se concentrem em decisões mais estratégicas, analíticas e orientadas ao futuro.
Na saúde, a inovação também avança. Startups, como a Sword Health, aplicam IA para aprimorar diagnósticos, personalizar terapias e otimizar recursos hospitalares. O resultado é a entrega de melhores desfechos clínicos com maior eficiência e menores custos, além da redução de falhas humanas em processos críticos.
Segundo estudos recentes, empresas que integram IA de forma estruturada alcançam, em média, uma redução de até 30% nos custos operacionais, enquanto observam ganhos de produtividade superiores a 40%. A IA deixou de ser promessa tecnológica para se tornar um vetor real de vantagem competitiva.
Nesse cenário de transformação acelerada, ferramentas inteligentes estão cada vez mais acessíveis e integradas aos processos corporativos, permitindo decisões mais estratégicas. Num mercado cada vez mais exigente, investir em IA é investir no futuro. O setor de serviços será liderado por quem souber aliar inteligência tecnológica à criação de valor tangível e duradouro.
Fonte: CBPCE em 16.04.2025