Navegar é preciso: Por Rômulo Alexandre Soares
A Câmara Brasil Portugal no Ceará – CBPCE celebra este ano o seu vigésimo aniversário. Considerada hoje uma das mais importantes entidades associadas à agenda de internacionalização do estado, a CBPCE tem fortalecido o debate em torno de temas de grande expressão para o desenvolvimento do Ceará.
No que se refere à economia do mar, não é diferente. A agenda portuguesa é um bom exemplo das melhores práticas e trata o mar como uma prioridade nacional. Apesar da enorme diferença de tamanho do território de Portugal e do Brasil, a Zona Econômica Exclusiva – ZEE portuguesa é quase a metade da brasileira. Para ter uma melhor ideia do que isso significa, Portugal tem a terceira maior ZEE na União Europeia e a 11ª no mundo.
Em Portugal, os formadores de políticas públicas e agentes econômicos falam de crescimento azul e hypercluster da economia do mar, referindo-se a uma variedade de temas, incluindo meio ambiente, portos, turismo, pesca, energia, biotecnologia, defesa e segurança.
Parece-me apropriado olhar para Portugal como inspiração, na medida em que se procura articular uma agenda do mar para o Estado do Ceará. Esta abordagem é ainda mais adequada quando consideramos os custos de transação envolvidos, mais baixos, fruto do uso comum da língua portuguesa, o que facilita o diálogo.
Por isso, a CBPCE tem apoiado a troca de experiências entre Portugal e o Ceará e, deste modo, auxiliado nos estudos e planos de qualidade realizados no Estado e que apontam para o mar como um dos mais relevantes vetores de desenvolvimento da economia do Ceará.
Esta costa extrema do nordeste do Brasil é a rota que liga EUA e Europa às principais cidades atlânticas da América do Sul. Do mesmo modo, os navios que navegam entre a África do Sul e os EUA também passam próximo da costa do Ceará. Os Portos de Pecém e Mucuripe, conectados à Europa, América e Extremo Oriente, embarcam chapas de aço, sapatos, frutas, componentes da indústria eólica e peixe e descarregam minérios, gás e cereais para abastecer a industrial local.
Se, por um lado, a Zona de Processamento de Exportação do Ceará – ZPE possibilitou a implantação da Companhia Siderúrgica do Pecém, dobrou o volume das nossas importações e exportações e criou uma variedade de oportunidades para o comércio exterior do Ceará, por outro, a malha de cabos de fibra ótica que vêm de várias direções do Atlântico, permitiu condições bastante favoráveis ao desenvolvimento da indústria da tecnologia da informação em nosso estado.
Não menos importante, a indústria pesqueira cearense ganha uma nova dinâmica com a recente introdução da pesca do atum, o turismo se projeta pelos 573 kms de praias com águas quentes e fortes ventos, ideal para os esportes náuticos e lazer e, da mesma maneira, as energias renováveis, já estratégicas, ganham uma nova dimensão com a implantação de uma cadeia de valor envolvida no hidrogênio verde e que nos conecta mais ainda à Europa.
O Ceará tem a oportunidade de assumir um papel de liderança brasileira no aproveitamento da economia do mar graças à vantagem locacional e vantagens competitivas que detém. Aproveitá-las exige disciplina e uma agenda pública e privada concertada.
(artigo publicado no Jornal O Povo em 24/09/21