O associativismo, a imigração e a diáspora, por André Lima
“O associativismo precisa urgentemente de uma nova mentalidade: menos solenidade e formalismo; mais ação, resultados e utilidade concreta para os associados”.
O Brasil foi palco, nos dias 19 e 20 de março, de um evento marcante para as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo: o Encontro Nacional Luso-Brasileiro do Associativismo, realizado na cidade de Fortaleza, no Ceará. A iniciativa foi promovida por quatro instituições que têm se destacado na promoção dos laços luso-brasileiros: a Câmara de Comércio Brasil-Portugal no Ceará, presidida por Raul Santos; o Conselho das Comunidades Portuguesas, representado por José Wahnon, conselheiro para o Ceará e Piauí; o Vice-Consulado de Portugal em Fortaleza, através do Dr. Rui Almeida; e a Sociedade Beneficente Portuguesa Dous de Fevereiro, presidida por Francisco Brandão.
Durante dois dias de intensa programação, o evento reuniu representantes do Governo português, dirigentes associativos, membros das comunidades e empresários que atuam no fortalecimento da relação entre Brasil e Portugal. Os debates abrangeram temas como o apoio institucional ao associativismo, a renovação geracional nas associações, os desafios da integração política e social da diáspora, e a criação de estratégias para aumentar a eficácia das entidades representativas.
Dentre os destaques, o deputado da Assembleia da República Flávio Martins, que também preside o Conselho das Comunidades Portuguesas, enfatizou que um dos principais entraves ao desenvolvimento do associativismo é a fragmentação entre as entidades e a consequente dispersão de força política e institucional. Para ele, é imprescindível a união das associações em torno de objetivos comuns, com visão estratégica e espírito de cooperação, para que se possa alcançar um verdadeiro protagonismo na defesa dos interesses da comunidade portuguesa no exterior.
Já o embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos, abordou a importância do associativismo não apenas sob o ponto de vista cultural e identitário, mas também econômico. O diplomata lembrou que os investimentos brasileiros têm tido impacto direto na economia portuguesa, principalmente nos setores de turismo, imobiliário e serviços, e que a forte mobilidade entre os dois países — simbolizada pelos mais de 100 voos semanais da TAP — representa uma oportunidade, mas também um desafio para a política de integração e acolhimento.
O Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, trouxe à tona um dado impactante: há mais de 80 milhões de brasileiros com laços de sangue com Portugal. Essa conexão, segundo ele, é um ativo que precisa ser valorizado por meio de ações coordenadas entre o Estado português, as associações e as comunidades, o que exige visão de longo prazo e estruturas modernas de atuação.
Ao longo dos debates, foi consenso que as associações precisam se renovar para não perder relevância. A juventude, muitas vezes alheia às estruturas tradicionais, demanda novas formas de participação — mais digitais, mais ágeis e mais conectadas com as realidades contemporâneas.
Na minha visão como advogado atuante no Direito Internacional e defensor ativo da integração da comunidade luso-brasileira, o associativismo precisa urgentemente de uma nova mentalidade: menos solenidade e formalismo; mais ação, resultados e utilidade concreta para os associados.
É necessário que as associações se tornem verdadeiros centros de oportunidades — que promovam negócios, networking, acesso a informação qualificada e articulação política. Para isso, propõe-se a criação de mecanismos e ferramentas práticas que permitam aos associados tirar o máximo proveito da estrutura associativa. Isso inclui desde plataformas digitais para divulgação de serviços e empresas, até programas de formação e incentivo ao empreendedorismo no contexto luso-brasileiro.
Além disso, a profissionalização da gestão associativa e o fortalecimento de parcerias com instituições públicas e privadas são essenciais para garantir sustentabilidade e impacto a longo prazo. A integração com os consulados e com o próprio Governo português precisa deixar de ser meramente institucional e passar a ser estratégica, com objetivos definidos e métricas de resultados.
O Encontro Nacional Luso-Brasileiro do Associativismo realizado em Fortaleza não foi apenas um evento — foi um sinal claro de que há vontade, talento e capacidade para promover uma virada no modo como as associações operam no seio da diáspora. Cabe agora aos seus dirigentes, associados e parceiros transformar esta energia em projetos consistentes, que façam do associativismo uma ferramenta viva, atuante e fundamental para o futuro das comunidades luso-descendentes espalhadas pelo mundo.
*André Lima, Advogado, inscrito nas Ordens dos Advogados de Portugal e do Brasil, pósgraduado em Finanças, Reestruturação e Contencioso Corporativo pela Universidade Católica Portuguesa, e pós-graduando em Direito Internacional, Imigração & Migração pela EBPÓS. É mentor dedicado de advogados em ascensão e membro ativo de diversas associações jurídicas, incluindo o IBDESC, ABRINTER e ABA, que destacam o seu compromisso com a internacionalização do direito e a sua contribuição para a comunidade jurídica internacional.
CONTATOS:
Site: www.globalpass.store
E-mail: contato@globalpass.store
Artigo de opinião publicado no Jornal Diário de Notícias.pt em 21.03.2025