O Oceano em língua portuguesa, por Rômulo Alexandre Soares
Hoje celebra-se o dia mundial do Oceano, instituído no Brasil, durante a ECO 92. Coincidentemente, 30 anos depois, a mesma ONU realiza em Lisboa do dia 27 de junho a 1 de julho, a Conferência dos Oceanos.
Durante uma semana, líderes políticos e cientistas de várias partes do mundo, reúnem-se para apontar caminhos que promovam o uso sustentável do mar e estabeleçam regras de governança para conter ameaças como acidificação, lixo marinho e poluição, e outras agendas urgentes associados às mudanças climáticas. O que será discutido na Conferência dos Oceanos interessa ao Ceará e, por isso, a presença do estado nesse momento histórico é legítima e bem-vinda.
Durante o período que presidi o Conselho de Relações Internacionais da FIEC na gestão do presidente Beto Studart, tive o privilégio de contribuir para a aproximação entre o Ceará e Portugal no tema da economia do mar, muito bem articulada, no lado cearense por Célio Fernando e Sampaio Filho e pelo lado português, por Miguel Marques, então na consultoria PwC. O Ceará tem motivos concretos para dialogar com um país europeu que nos últimos 10 anos promoveu uma revolução no que denominou hyperlcuster da economia do mar.
O Fortaleza 2040, o Ceará 2050 e o Rotas Estratégicas foram iniciativas pioneiras. Juntos, traçaram diretrizes que aceleraram o entendimento do Ceará sobre as oportunidades associadas ao mar e permitiram que ele seja considerado atualmente como um dos estados do Brasil que mais avançou em conhecer o mar.
Neste momento, iniciativas como o Planejamento Costeiro e Marinho do Ceará, no âmbito do Programa Cientista Chefe, demonstram a que o Ceará se propõe. O Observatório Costeiro e Marinho, o Atlas Digital e Marinho, o Plano Estadual de Preparação, Contingência e Resposta Rápida às Emergências Ambientais da Zona Costeira, o Plano Estadual de Gerenciamento dos Recursos Marinhos Bióticos e Abióticos da Zona Costeira e Plataforma Continental, o Plano Estadual de Gerenciamento e Monitoramento Contínuo da Linha de Costa e Marinha, para citar apenas algumas iniciativas demostram como a ciência e política estão alinhadas. Da mesma forma, a criação e vitalidade da Câmara Setorial de Economia do Mar da ADECE, presidida por Alberto Gradvohl e os últimos desdobramentos em torno do Zoneamento Ecológico Econômico Costeiro, liderado pelo Secretário Artur Bruno, também apontam que é possível e desejável associar desenvolvimento econômico e responsabilidade socioambiental.
Mas o mar não deve significar apenas uma nova fronteira a ser conservada ou aproveitada de modo sustentável. É essencial entender o Atlântico como um espaço que também conecta o Ceará ao mundo. O Ceará é um território que se lança fisicamente para dentro do Atlântico Sul. Sua geografia favorece o seu protagonismo e os cabos submarinos e a nova rota do hidrogênio verde afirmam essa nova centralidade.
Em comum, Portugal e o Ceará são banhados pelo mesmo Atlântico. Além deles, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe também compartilham o mesmo Oceano e se conectam pela mesma língua. Juntos, esses países permitem projetar o Oceano em língua portuguesa.
Rômulo Alexandre Soares
(artigo publicado pelo jornal OPovo em 03/06/2022)