Praça Portugal: a celebração dos laços lusitanos na Aldeota
Praças são locais de encontro por excelência. Espaços urbanos essencialmente democráticos, que acolhem sem distinção, incentivando os mais diversos grupos sociais a habitarem uma mesma cidade. Assim é a Praça Portugal, a reforçar os laços lusitanos no coração da Aldeota
Um verdadeiro símbolo de irmandade entre Portugal e Brasil, encravada no centro de um dos bairros mais nobres de Fortaleza, nasce a Praça Portugal. Espaço verde pulsante, de vida coletiva e urbana. Fazendo reverência ao país descobridor, homenageia e sintetiza toda a lusitanidade de um laço fraterno com os países de língua portuguesa.
Praças são locais de encontro por excelência, são espaços urbanos essencialmente democráticos, que acolhem a todos e a todas sem distinção, aproximando os mais diversos grupos sociais para que habitem uma mesma cidade. Concebida ao final da década de 1940 e construída em 1968, a Praça Portugal se diferencia das demais por ser em formato de rotatória.
No cubo de granito, onde o brasão português foi esculpido, junto à estrela de seis pontas, lemos o Canto VII de Os Lusíadas, que louva o espírito desbravador do povo lusitano. Sua trajetória foi marcada ao longo dos anos por reunir diversas tribos urbanas. Já mais recentemente, recebeu manifestações políticas.
Sem dúvida, um dos grupos mais marcantes presentes na praça foi a tribo dos emos nos anos 2000. O dj Jayro Ikari relembra essa época marcante de sua vida. “Em 2005, ainda na época de escola, criei uma comunidade no Orkut, que se chamava “União Emo de Fortaleza”. Os encontros dos participantes da comunidade costumavam ser aos sábados à noite na Praça Portugal”, comenta Jayro.
Coração da Aldeota
“Fiz boas amizades que duram até os tempos atuais. Naquela época com tantas tribos, tantas pessoas diferentes, muitos deles não curtiam os emos. Sempre houve certo preconceito das outras tribos com os emos, que se reuniam apenas para tocar violão, beber vinho e azarar. Foram bons tempos”, recorda.
Já a comerciante Katia Sousa, que trabalha no entorno da praça desde 2007, diz que o local representa muito para as famílias. “Acredito que a praça representa para mim como para toda a cidade, o coração da Aldeota. É uma praça linda, reformada, onde as pessoas se sentem bem”, afirma.
Ela diz que as pessoas ainda costumam descer dos prédios e passear com as crianças e os cachorros. “Vejo que as famílias ocupam a praça, todos se conhecem e se cumprimentam. A Praça Portugal, para mim, é ainda de muito carinho e de muita importância”, finaliza.
Laços lusitanos
Segundo Raul Santos, presidente da Câmara Brasil Portugal Ceará, a Praça Portugal é sem dúvida uma das estruturas físicas da cidade de Fortaleza que mais enfatiza os laços entre Portugal e o Ceará.
A comunidade portuguesa na cidade tem grande estima pela praça, participando ativamente na discussão de reformas e ajustes que foram realizados neste equipamento ao longo do tempo. Atualmente uma estátua do empresário Ivens Dias Branco está alocada lá como homenagem ao empreendedorismo da família Dias Branco, com origem portuguesa”, enfatiza.
O diretor de relações internacionais da Câmara Brasil Portugal Ceará, Rômulo Alexandre Soares, destaca que a Portugal é praça única, por estar na interseção de duas importantes vias de acesso dessa região: as avenidas Dom Luís e Desembargador Moreira.
“Diferente da maioria das praças em Fortaleza, que ficam à margem e você pode passar de carro e não a ver, a Praça Portugal se coloca à frente de todos que cruzam aquela região. É uma vitrine para movimentos sociais, para celebrações, como o Natal. Essa centralidade lhe confere um caráter único. Praticamente é a única praça em formato de rotatória acessível para as pessoas”, considera Soares.
Linhas arquitetônicas
O arquiteto e conselheiro federal do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Ceará (CAU-CE), Lucas Rozzoline, explica como o espaço se tornou um símbolo da modernidade para Fortaleza. “A Praça Portugal tentou ser um tipo de símbolo de modernidade por causa do seu desenho, da simetria, da sua dimensão, da sua relação com o viário. É uma rotatória, mas não deixou de ser um espaço bom para utilizar, principalmente num bairro que tem pouquíssimas praças”, pontua.
Segundo o arquiteto, uma marca forte deste equipamento urbano é a resistência. “Há 10 anos, houve várias manifestações contra sua demolição, porque existia a pretensão de transformar a praça num tipo de cruzamento, e seria mais um cruzamento e menos uma praça”, explica.
Dona de uma trajetória singular, a Praça Portugal é a celebração, no tempo e no espaço, da necessidade de sempre navegar em busca de dias melhores e de fraternidade universal.
Fonte: O Otimista em 15.04.2024