Fusões de empresas movimentam mercado financeiro e geram novas oportunidades

Fusões de empresas movimentam mercado financeiro e geram novas oportunidades

Em 2020, foram 1.038 operações, entre fusões e aquisições, que trazem influências – positivas e negativas – para acionistas, empresas concorrentes e potenciais investidores. Analistas apontam a crise financeira como maior responsável por essas combinações

A fusão bilionária entre Hapvida e NotreDame Intermédica, proposta em janeiro e em fase de aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), movimentou o mercado financeiro no Brasil nos primeiros meses do ano. Afinal, o negócio estimado em R$ 110 bilhões traz influências para acionistas, concorrentes e potenciais investidores. Fato semelhante ocorreu em 2008, quando os gigantes financeiros Itaú e Unibanco se fundiram, numa transação de R$ 85 bilhões, em valores da época. Além dessas combinações de grande porte, o País tem sido pródigo em fusões e aquisições: foram 1.038 transações do tipo em 2020, superando o recorde de 2019, que era de 912.

“Vários fatores explicam essa grande ocorrência. Um dos principais é a crise financeira, porque às vezes uma empresa mais organizada adquire outra, do mesmo segmento, que está passando por dificuldade. Outro motivo é a baixa taxa de juros, porque o capital de liquidez vai atrás de remuneração, e uma empresa bem administrada pode trazer melhor retorno do que uma aplicação de renda fixa”, explica Raul Santos, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE) e sócio da Aveiro Consultoria. “E há ainda a questão do aumento de custos gerais, fazendo com que os negócios funcionem melhor em escala. Isso deixa as empresas de médio porte em situação difícil e, por isso, várias delas têm sido adquiridas por concorrentes de maior porte”, observa.

Consequências

Ter empresas de alcance nacional, com patrimônio bilionário, parece um bom negócio para o mercado. Porém, os especialistas fazem ressalvas em relação a esses movimentos. “Em geral, é preferível que se tenha um mercado mais pulverizado, porque há mais competição e oportunidades de negócios. Mas, para o acionista de uma empresa que passa por fusão, acaba sendo bom, porque amplia o tamanho do negócio, com perspectivas de melhores ganhos, com a escala alcançada”, observa Raul Santos.

“Os impactos para o mercado financeiro vão depender da avaliação da operação, no sentido da mensuração, ou mesmo a percepção dos ganhos resultantes da fusão. Ou seja, se a percepção for positiva, as ações devem se valorizar, gerando ganhos para os acionistas, além dos prováveis ganhos sociais, decorrentes da maior eficiência no novo negócio, no tocante à redução de preços e/ou da maior qualidade e abrangência dos produtos e serviços”, analisa Renato Aguiar, diretor de crédito e operações da CDP Capital.

Setor de saúde

Em tempos de pandemia, o setor de saúde é um dos mais valorizados do mercado. Também por isso, a negociação entre Hapvida e NotreDame Intermédica chamou tanto a atenção. “As empresas atuavam no mesmo segmento, com várias sinergias, em termos de base de clientes, rede de atendimento, abrangência geográfica, estrutura administrativa, processos etc, de modo que a empresa resultante deverá ter relevantes ganhos, tanto em termos do crescimento de receitas, quanto de redução de custos e despesas. Não à toa, o referendo do mercado foi imediato, na forma da valorização das ações de ambas as empresas”, observa Renato Aguiar.

“Quem sofre um pouco são os colaboradores, porque às vezes há superposições de funções. Deve haver um enxugamento de quadros, num primeiro momento, mas depois a companhia se adequa e voltar a crescer, em termos de contratações. Para quem é cliente, é bom, porque ganha uma rede maior de atendimento”, diz Raul Santos.

Entenda a diferença entre fusão e aquisição
As consequências para o mercado são praticamente as mesmas, mas tecnicamente a fusão de empresas é diferente da aquisição. “A aquisição é uma compra. É como se o vendedor entregasse a chave e saísse totalmente do controle da empresa, sem nenhuma participação”, define Raul Santos. “A fusão é um pouco diferente. Se uma empresa não tem como comprar totalmente a outra, propõe uma fusão, na qual as duas companhias se fundem, para ganhar escala, racionalizar custo e ampliar mercado rapidamente. E aí se discute o acordo de acionistas, quem fica com a presidência, os demais cargos etc. O processo de fusão vai mais para a linha de acordo, para ganhar escala”, explica.

Na aquisição, por exemplo, a empresa comprada pode deixar de existir, bem como os seus sócios não precisarão necessariamente se tornar sócios da empresa compradora. Também não há a obrigatoriedade da empresa adquirida pertencer ao mesmo segmento da compradora, uma vez que a aquisição pode ter origem numa estratégia de diversificação e não de consolidação. “Em ambos os tipos de operações pode haver a necessidade de autorização por parte de agências governamentais, para afastar eventuais prejuízos à sociedade, em razão da redução da concorrência, da arrecadação de tributos e dos postos de trabalho, por exemplo”, completa Renato Aguiar.

O setor de Tecnologia da Informação (TI) foi o líder em negócios em 2020 no Brasil. Foram 398 fusões ou aquisições, crescimento de 54% em relação a 2019 – 38% do total transacionado.

Fonte: O Otimista