O mar que começa na rua por: Rômulo Alexandre, sócio CBPCE

O mar que começa na rua por: Rômulo Alexandre, sócio CBPCE

Incomoda-me a ideia de se jogar copos plásticos no chão durante as corridas de rua em Fortaleza. Ainda que a organização diga que a prática é comum em outros lugares e que recolhe todo o lixo gerado, o que não é verdade, a atitude reforça a cotidiana ideia do “rebola no mato”. Todo o copo que não é recolhido durante uma corrida tem um destino: o mar, após ser soprado pelo vento, cair em bueiros, seguir para os rios e, finalmente, desaguar na foz do Rio Ceará, Cocó ou Riacho Maceió, para citar alguns. Acredito que esse gesto diz muito sobre como a nossa sociedade quer construir o futuro e tenho confiança de que podemos impulsionar uma geração que se preocupa em saber para onde vão os resíduos que produzimos.

2021 não marca apenas a contagem regressiva de uma década para se alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. É também o início da Década dos Oceanos. Juntos, compreendem os programas mais ambiciosos das Nações Unidas para frear um desastre anunciado.

Se as mudanças climáticas temidas pela comunidade científica mundial trazem num horizonte de pouco mais de 3 décadas um profundo impacto para todos os ambientes costeiros e suas populações, os resíduos provenientes da atual sociedade de consumo produzem números estarrecedores. Os copos plásticos que falei acima são uma pequena parte desse problema.

Embora cada vez mais pessoas estejam cientes de temas ligados à produção e consumo sustentáveis, a geração de resíduos está aumentando a um ritmo alarmante. De acordo com o relatório What a Waste 2.0 do Banco Mundial, 33%O dos 2,01 bilhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos, não são gerenciados de maneira ambientalmente segura.

Segundo esse mesmo estudo, somente em 2016, o mundo gerou 242 milhões de toneladas de resíduos plásticos, o equivalente a cerca de 24 trilhões de garrafas plásticas de 500 milímetros e 10 gramas. O volume de água dessas garrafas poderia encher 2.400 estádios olímpicos, 4,8 milhões de piscinas olímpicas ou 40 bilhões de banheiras. Esse também é o peso de 3,4 milhões de baleias azuis adultas ou 1.376 edifícios Empire State juntos. Se esses números não são suficientes para assustar, adicione o fato de que isso representa apenas 12% do total de resíduos gerados a cada ano no planeta.

Todavia, são os rios os principais vetores de poluição plástica dos oceanos ao redor do mundo. Um estudo da Ocean Clean Up diz que 1% dos rios do mundo são responsáveis por quase 80% do plástico introduzido nos oceanos. Infelizmente, a cidade de Fortaleza conta com dois desses mil rios: O Rio Ceará e o Rio Cocó transportam boa parte do lixo que jogamos nas ruas.

Nesse ritmo, são diluídos na água do mar uma parcela dos R$ 14 bilhões que todo o ano deixam ser gerados no Brasil devidos à falta de reciclagem adequada de plástico, vidro e papelão. Em outras palavras, reciclamos apenas 4% do que poderia ser reutilizado pela indústria.

A gestão de resíduos sólidos diz respeito a todos. Mas garantir a correta destinação do lixo é dever de cada um de nós.

Fonte: APSV Advogados em 20.07.2021

Joaquim Cartaxo: Futuro e Futurismo

Joaquim Cartaxo: Futuro e Futurismo

Por múltiplos fatores, o século XXI começou e segue com incertezas políticas, socioambientais, culturais e tecnológicas. Todos os contextos presentes e futuros agravaram-se pela inesperada pandemia mundial da Covid-19. Daí acentua-se a importância de examinar as possibilidades de tais cenários, exercício analítico tocante à produção do conhecimento que congrega renomados pesquisadores em todo o mundo, denominado futurismo.

O futurismo é uma profissão. Todavia, ela não lê o futuro misticamente e sim, usa elementos reais para vislumbrar tendências quanto aos futuros prováveis. Sobre isso, Jim Dator, diretor do Centro de Estudos de Futuros da Universidade do Havaí, esclarece: “não existe apenas um futuro para ser previsto. Há vários futuros alternativos para serem antecipados e pré-experimentados em algum nível”.

Consegue-se encontrar antecipação do futuro em todos os ramos de atividades, porém achamos na literatura as referências mais inventivas. Mostram isso as obras de Ievguêni Zamiátin, Nós; de George Orwell, 1984; de Isaac Asimov, Eu Robô; de Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo; de Ray Bradbury, Fahrenheit 451; de Anthony Burgess, Laranja Mecânica; e mais atual a distopia de Veronica Roth, Divergente.

Outro exemplo, foi o alerta de Bill Gates durante a palestra “A próxima epidemia?”, em 2015, ao conjecturar que “hoje, o maior risco de catástrofe global não se parece com uma bomba, mas sim com um vírus. Investimos muito em armas nucleares, mas bem pouco em um sistema para barrar uma epidemia. Não estamos preparados”.

Gates argumentava com base nos estudos sobre o ebola. Acertou na advertência sobre a catástrofe global provocada por um vírus e despreparo para enfrentá-la. Caso Covid-19.

O futurismo nos ensina relativamente aos sinais dos futuros. Inócuo bater-se contra o futuro. Caso não o compreendamos, o futuro nos atropelará. Assim, planejar é apostar qual futuro podemos antecipar diante dos cenários plausíveis; é capacidade de adaptação rápida, ao longo do trajeto, quanto ao enfrentamento e superação dos desafios e aproveitamento das oportunidades portadoras de futuros.