Reverso: no mundo real não há planeta B, por Rômulo Alexandre Soares
Reverso: no mundo real não há planeta B, por Rômulo Alexandre Soares
Lembro do meu primeiro acesso à internet, pela BR Home Shopping, em 1995. Eu tinha acabado de sair da faculdade de Direito da UFC e me conectado à Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), quando Fernando Cirino era presidente, Carlos Prado e Eduardo Bezerra lideravam a área internacional da casa e lançavam o Trade Point no Ceará, numa parceria com o Ministério de Relações Exteriores e a CNUCD, a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento. Uma das primeiras páginas que acessei na www foi o site do projeto. Era uma nova forma de conexão com o mundo.
Era o tempo do Netscape, Lycos, Alta Vista e Eudora, portais e aplicações que substituíram rápida e definitivamente o meu rádio Lafayette telsat, a minha antena plano-terra e aposentaram o meu prefixo PX7B4121 que me permitia modular com outros lugares do mundo.
A mudança veio rápida! A internet mudou nossa vida e, evoluindo do acesso discado, 3G, 4G, conectou-nos a qualquer aparelho que nos permite ficar on-line. Saímos da tela verde, vieram as telas coloridas, as agendas Cássio, os palms, celulares e, enfim, com óculos, estamos entrando na tela.
A experiência de entrar numa realidade paralela, cheia de avatares, o tal metaverso, é incrível, mas assustadora. Lembro-me em Lisboa há 6 anos, no WebSummit, ouvir um debate sobre teletransporte e eu ter me metido na conversa e dizer que achava que isso nunca existiria. E, se existisse, qual seria a utilidade? Se a realidade pode ser reconstruída sem desintegrar e reintegrar a matéria, de maneira mais barata e rápida, o teletransporte seria pouco útil. Realidade aumentada e realidade virtual seriam o futuro.
Noutro dia correndo na Antônio Sales percebi uma outra visão desse processo: nossos avós viveram e tiveram tudo no mesmo lugar. Depois, no tempo dos nossos pais, o lugar onde moramos e onde trabalhamos ficou distante entre eles. E hoje? Hoje, o trabalho e tudo vem vindo para perto de onde estamos e, além disso, iremos estar em vários lugares do mundo, vários versos, movimentando-nos à velocidade da luz. Quase tudo sem que a matéria saia do lugar. Esse é o tempo da nossa velhice e da juventude dos nossos filhos.
Mas a mensagem de alerta que damos para os Brunos e Cecílias, que se desconectem, precisa ser dada para nós mesmos. Já, senão será tarde. Proponho um grito contra o metaverso, que nos aproxima de Zion e nos distancia da Matrix. Que venha o multiverso, que inclua também este universo onde somos de carne e osso, vivemos e morremos.
Quero o melhor do mundo virtual e do mundo real. Quero folhear um livro infinito, trazer telas virtuais iguais às que vi em Minority Report. Mas quero dar um abraço verdadeiro, olhar nos olhos, não ser um avatar, admirar a beleza de um corpo que enruga, envelhece, mas que é meu desde o início, até o fim, fruto do código divino. Que tudo tenha um fim e um recomeço.
Proponho o reverso, uma jornada que misture tudo, onde avatares, carne, osso e energia convivem, em horas que somos superhuman@s e outras, falíveis e sujeitos às leis da física e da dor, conectados com a verdade, com um planeta que precisa ser cuidado. Enfim, não esquecer: no mundo real não há planeta B.
Fonte: Rômulo Alexandre Soares