Ventos para o futuro, por Rômulo Alexandre Soares
Em 2019, um grupo inspirado pelo que viu em Lisboa no Web Summit, ajudou a tirar do papel o Winds for Future, uma proposta cheia de desafios, mas confiante que dá para criar no Ceará em poucos anos um dos mais importantes festivais latino-americanos de inovação e sustentabilidade.
A praia do Cumbuco, que é a Meca do Kitesurf e uma das mais relevantes conexões do Ceará com o mundo, sediou um festival vibrante que reuniu pessoas de mais de 20 países conectadas a empresas, sociedade, governos e academia. Além de muitas palestras sobre temas que vão desde cidades inteligentes, transição energética a cultura oceânica, o evento teve uma transversal voltada para gastronomia numa parceria com o Senac envolvendo toda a comunidade do Cumbuco e outra para esportes. Neste caso, mais de 1000 velejadores estavam decididos a quebrar no domingo o Guinness World Record.
Eventos como esse, quando são realizados em cidades diversas, vibrantes, ensolaradas e costeiras, são excelentes para fazer conexões e atrair criativos e inovadores. O Winds for Future, ou o DFB e o Ceará Global, para citar dois outros eventos incríveis que conheço de perto, têm a capacidade de apoiar o processo de internacionalização da economia do Ceará a um custo muito baixo.
A indústria de eventos atrai turistas, sim, mas atrai também mais eventos, atrai cientistas, empreendedores e investidores, promove negócios, paga impostos, altera a cara do nosso ecossistema e amplia a nossa rede de relacionamento global.
Para se ter uma ideia da importância do efeito indutor de grandes eventos sobre a economia, o governo de Portugal contribui com cerca de 11 milhões de euros por ano apenas para manter o Web Summit em Lisboa e o Rio de Janeiro assegurou recentemente uma série de contrapartidas por cada ano que a versão latino-americana desse evento permanecer na Cidade Maravilhosa.
Além de um ecossistema vibrante para empreendedores e inovadores, temos algo no Ceará que muitos jovens criativos do mundo inteiro adoram e procuram: é nosso o melhor vento para a prática do kitesurf, a água do mar está sempre na temperatura certa e, por isso, somos um destino incrível para nômades digitais. Jeri, Cumbuco e Fortim, entre outras diversas praias dos mais de 573 km da nossa costa atlântica, são prova disso. Aliás, a decisão da prefeitura de Caucaia de criar esta semana uma legislação que estimula a atração de nômades digitais para o Cumbuco, somada ao processo de obtenção do selo Bandeira Azul, tem tudo para fazer dessa simpática vila uma das principais praias inteligentes do Brasil.
É preciso aproveitar a vocação do Ceará para as energias renováveis e negócios ligados à economia do mar, por exemplo, e utilizá-la para emplacar eventos de alcance internacional. A aposta consistente na indústria do turismo, a criação do hub aéreo em Fortaleza – a menos de sete horas da Europa – facilitam o sucesso dessa aposta. Um lugar que é bom para passar férias e viver também tem capacidade de atrair empreendedores e empresas de tecnologia e realizar eventos internacionais incríveis.
Por Rômulo Alexandre Soares, publicado no jornal O Povo, veículo de grande circulação localizado em Fortaleza, no Ceará.