As dez lições de pandemia de Marcelo Rebelo de Sousa
Presidente da República abordou a forma como o vírus obrigou a população mundial a ficar de quarentena
“Olá boa tarde, chamo-me Marcelo Rebelo de Sousa e sou professor. E hoje vou matar saudades”. Foi assim que o Presidente da República começou a teleaula na RTP Memória. Durante cerca de meia hora, o Presidente da República deu 10 “lições da pandemia” ao alunos da telescola. A intervenção sobre cidadania passou assim a ser uma explicação sobre o covid-19 e a forma como ele chegou a Portugal e apanhou o Mundo de assalto.
Marcelo começou por elogiar o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a resposta à pandemia. E apesar da Europa ter andado “distraída no início” foi “menos egoísta do que a maior parte do mundo”.
O Presidente da República divaga um pouco sobre o que foi a sua quarentena e de como foi difícil morar perto da praia sem poder nadar ou ficar sem dar abraços e beijos. Passeava à noite mesmo “sem ter propriamente cães ou gato”, mas não punha “o pé na praia”. E quando pode mergulhar foi como se fosse o “primeiro banho da vida”, como quando tinha cinco ou seis anos.
O distanciamento social foi e é importante e o Presidente da República tem saudades dos beijos e abraços. “Tenho fama de beijoqueiro e sou beijoqueiro”, admitiu Marcelo, revelando que o filho que veio do Brasil não resistiu a dar-lhe um abraço e um beijo na despedida, mesmo contra as regras.
Por fim dedicou uma palavra a quem não se adaptou ao ensino à distância: “Não fiquem desanimados que não é o fim do mundo.” Pois, “a grande aula da vossa vida foi viver o que viveram”.
O projeto #EstudoEmCasa é uma parceria entre o Ministério da Educação e a RTP para a produção de conteúdos televisivos dirigidos aos alunos do 1.º ao 9.º anos de escolaridade durante a pandemia de covid-19.
Eis as dez lições da pandemia por Marcelo
1. ª A coisa mais importante da vida é a vida e a saúde. O divertimento e o desporto nada significam sem a saúde. Profissionais de saúde, médicos e enfermeiros
2.º Em muitos momentos cada um foi para seu lado. É bom que quando chegarem as vacinas cheguem para todos porque não há cidadãos de primeiro e de segunda.
3.ª A Europa andou distraído no início. Percebeu tarde, mas percebeu. Foi menos egoísta.
4.ª Epidemia pega-se com muita facilidade. Ficamos em casa semanas ou meses porque houve quem fosse trabalhar. Os médicos, os homens de lixo, os polícias, os seguranças…
5.º O vírus ataca toda a gente, mas sobretudo os mais idosos como eu que tenho 71 anos, os mais doentes do coração e dos pulmões. E a vossa obrigação é pensar que não são eternos. Usar a máscara quando necessária, a distância social quando imposta e a limpeza.
6.ª O vírus ataca todos, mas sobretudo os mais pobres, os sem tetos, os que vivem em camaratas ou em casas sem condições. Um em cada cinco pessoas que vivem em Portugal estão abaixo do limiar da pobreza.
7.ª Milhares de emigrantes que quiseram vir a Portugal nas férias da Páscoa e nós tivemos de lhes pedir para não virem para não haver o risco de contágio e eles sacrificaram-se. E agora pedimos aos milhares que se preparam para vir de férias de verão que tenham cuidado com os avós.
8.ª Vocês passaram largas semanas em casa fechados, com os irmãos, pais e avós e estiveram distante de outros familiares e amigos. Foi mesmo um irritação, uma guerra. Nunca nos últimos anos estiveram tanto tempo juntos como agora. Isso é uma sensação única, mesmo nos momentos em que não corre bem e se irritam … isso é inesquecível. É o melhor que temos na vida.
9.ª Eu já vivi algumas epidemias, mas nada comparado com isto. Olhemos para a China, onde já se fala na segunda vaga. Nunca se estudou tanto pela Internet, nunca se trabalhou tanto de casa com o computador, nunca se falou tanto com colegas, amigos, parentes através da Internet como nos últimos meses. Eu descobri o valor das pequenas coisas. Não poder viajar, sair de casa, jogar à bola, pequenos gestos, um encontro ou conversa com um amigo ganha importância. Eu passeei quilómetros no Palácio de Belém. O que parece pequeno torna-se enorme. Por vezes chamamos a isso saudade, mas se não for saudade é vontade de encontrar.
Agora pensem em quem não sai de casa. Ponham-se na posição deles. Imaginem o que é estar preso em casa. Vocês estiveram e agora deêm valor a quem está preso em casa. Devem encontram-se com bom senso. Outro dia fui a um concerto e de repente entra no placo a banda que ia tocar e os dois artistas que iam cantar e houve um aplauso louco. Era um aplauso de até que enfim. Eu como sabem nado duas ou três vezes por semana. E durante o período que não se podia nadar eu passeava à noite, um passeio higiénico à noite e evitava olhar para praia, não sabia quanto tempo tinha de ficar sem nadar. Quando pude dei um passeio no paredão da praia e no primeiro dia que pude nadar soube-me como se tivesse cinco ou seis anos que foi quando comecei a mergulhar.
Aos 13-14 anos pensava que ia viver eternamente. O esforço teve de ser de todos. E agora o que me apetece é abraçar e beijar as pessoas. Eu tenho fama de beijoqueiro. É verdade sou beijoqueiro. Os pais educaram-me assim. O meu filho que vive em São Paulo, epicentro da pandemia no Brasil e no Mundo, neste momento, veio visitar-me e esteve cá 15 dias e mantivemos o distanciamento social, mas no momento de se despedir, o meu filho não resistiu e abraçou-me e beijou-me. Ainda bem que não havia câmaras a filmar.
10.ª Para vocês para quem o ano não correu assim tão bem, não fiquem desanimados que não é o fim do mundo. A grande aula da vossa vida foi viver o que viveram.
Fonte: DN em 16.06.20
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