Número de investidores estrangeiros no Ceará mais do que dobra em 10 anos
Estado possui mais de 5.800 empresas constituídas com capital externo e, mesmo diante da pandemia, segue recebendo investimentos de fora
Localizado em posição geográfica privilegiada perante a Europa, Estados Unidos e Norte da África, o Ceará tem se mostrado, cada vez mais, uma terra de grandes oportunidades para empresários estrangeiros que decidem apostar no Brasil. Nos últimos dez anos, por exemplo, o número de investidores de outros países mais do que dobrou no Estado, passando de 4.104, em 2010, para 8.531 no primeiro semestre de 2020, segundo estudo divulgado durante o evento Ceará Global – O Futuro em 360º.
Elaborado pela Câmara Brasil Portugal no Ceará (CBP-CE), com apoio da Junta Comercial do Estado, a edição 2020 do levantamento B.I. Investimento Estrangeiro no Ceará revela que, da quantidade total de investidores externos atualmente presentes no Ceará, mais de 3.800 são oriundos de dois países europeus: Itália, com 2020 investidores; e Portugal, que conta com 1.854. França (663), Espanha (655) e China (375) completam os cinco principais destaques.
Para Rômulo Alexandre Soares, sócio da APSV Advogados e vice-presidente da Federação Brasileira de Câmaras de Comércio Exterior, o que aproximou o Estado de investidores europeus foram as ligações aéreas entre Fortaleza e importantes destinos da região, desenvolvidas ao longo dos anos. “Costumo dizer que navios transportam mercadorias e aviões transportam investimentos”, afirma.
“Em 1998, quando a TAP começou a operar a rota Fortaleza/Lisboa, houve um forte processo de aceleração de investimentos estrangeiros e, hoje, os portugueses são um dos principais grupos de investidores do Estado. O mesmo tem acontecido com franceses e holandeses, após a chegada do hub da Air France/KLM no Aeroporto de Fortaleza. O fato de ter uma ligação aérea permite criar laços de negócios extremamente difusos”, comenta Rômulo Alexandre.
Para o presidente da Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), Eduardo Neves, outro fator que culminou no aumento de investidores estrangeiros no Ceará, ao longo da última década, foi a chegada de grandes empreendimentos ao Estado, como a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), a Siderúrgica Latino-Americana (Silat) e a Vestas, maior fabricante de turbinas eólicas do mundo, localizada no município de Aquiraz.
“Podemos dizer que esses são os maiores investimentos em termos financeiros, mas outro fator interessante é o aumento do turismo no Estado, trazendo mais investidores de pequeno e médio porte, seja no mercado imobiliário, em hotéis, ou também em pousadas e restaurantes. Esse tem sido um movimento muito forte” destaca Eduardo Neves.
Somente no primeiro semestre de 2020, mesmo com toda a instabilidade gerada pela pandemia da Covid-19, 184 novos investidores decidiram aportar recursos no Ceará, segundo o levantamento. Desses, a maioria são pessoas físicas, mas, segundo especialistas, a grande quantidade captada pelo Estado faz com que o impacto econômico seja significativo.
Número de empresas cresce na crise
Além da quantidade de investidores, o número total de empresas com capital estrangeiro no Ceará também cresceu em meio à crise do novo coronavírus, tendo em vista que houve um incremento de 153 novos negócios no primeiro semestre deste ano. Ao todo, o Ceará conta, atualmente, com 5.822 empresas com aportes internacionais, alta de 122,5% ante as 2.616 registradas em 2010.
Das novas empresas com capital estrangeiro que chegaram ao Ceará em 2020, 24 possuem sócios italianos, 21 têm aportes colombianos e 16 de investidores portugueses. Somadas, a mais de 5.800 empresas deste tipo existentes no Estado têm um capital social de R$ 31,22 bilhões, aponta o estudo da CBP-CE.
“A pandemia atrapalhou, sem dúvida, pois interferiu no comércio exterior e nos investimentos, mas a questão do câmbio é um item extremamente importante, porque é quanto você consegue comprar na economia local. Assim, a posição cambial, hoje, é vantajosa para as exportações e para atrair investimentos, pois fica mais barato apostar em negócios no Brasil”, opina Rômulo Alexandre.
Ainda segundo o vice-presidente da Federação Brasileira de Câmaras de Comércio Exterior, diferenciais competitivos do Ceará, como as conexões aéreas, os portos do Pecém e de Fortaleza, assim como a localização geográfica e o ramal ferroviário da Transnordestina, ainda não concluída, dão totais condições de que o Estado siga recebendo investimentos estrangeiros ao longo dos próximos anos, mesmo em uma cenário de retomada da economia global.
“O Ceará tem, sim, como atrair investimentos. Fortaleza é uma metrópole de influência regional, que tem impacto sobre 20 milhões de habitantes, sobre um território envolvendo Ceará, Piauí, Maranhão e parte do Rio Grande do Norte. Se identificarmos as vocações da cidade, temos tudo para avançar, pois ela é privilegiada no aspecto geoeconômico”, diz Rômulo.
Quem também se mostra otimista quanto à chegada de novos investimentos estrangeiros é o presidente da Adece. Segundo Neves, com sua “trinca de hubs”, o Ceará possui um cenário favorável para a captação em diversos setores. “Já estamos sentindo na área de tecnologia e a possibilidade de atrairmos outras empresas tem sido crescente, seja no mercado de e-commerce ou no armazenamento de dados. Na área de logística a tendência é de que tenhamos mais empresas de grande porte” opina.
US$ 4 bilhões em investimentos
Segundo o levantamento da CBP-CE, atualmente o Ceará conta com cerca de US$ 4 bilhões em investimento estrangeiro direto na sua economia, incluindo US$ 4 milhões inseridos nos primeiros seis meses de 2020.
Do início do século até o primeiro semestre deste ano, somente a Coreia do Sul responde por 29% de tudo que foi investido no Estado, principalmente por conta das empresas Dongkuk e Posco, responsáveis pela implantação da CSP, que também tem a Vale em sua composição acionária.
Além dos sul-coreanos, os portugueses também possuem uma participação significativa no investimento estrangeiro do Estado, com 22% do total, o que representa aportes de aproximadamente US$ 3 bilhões ao longo das duas últimas décadas. Alemanha (US$ 1,56 bi) completa o pódio dos destaques.
Segundo o estudo divulgado no Ceará Global 2020, a indústria da transformação foi o setor que mais recebeu investimentos estrangeiros no Estado ao longo dos últimos 20 anos, com US$ 5,53 bilhões. Na sequência, aparece o setor de eletricidade e gás, com US$ 4,66 bilhões no período. A categoria “atividades e serviços complementares aparece na terceira colocação, com US$ 2,19 bilhões.
Para Rômulo Alexandre, há outros setores com potencial para aumentar sua participação e despontar, nos próximos anos, como destaques na captação de investimentos estrangeiros. “Há grandes oportunidades para atrair investimentos na área de serviços e na de telecomunicações, principalmente na parte de dados. O Ceará fez o dever de casa, com transparência, responsabilidade fiscal e investimento em educação. Assim, é natural que a evolução continue”, finaliza.
Fonte: Trends CE em 26/08/2020