Rômulo Alexandre Soares: Fortaleza, uma metrópole conectada ao mundo
Em 2009, durante um encontro de negócios que tive a oportunidade de organizar em Fortaleza envolvendo empresários de países de língua portuguesa, ouvi do experiente engenheiro Murteira Nabo, antigo dirigente da Portugal Telecom, uma história vivida por ele nesta cidade na década de 70 e que marcou a sua certeza de que a capital do Ceará tem a localização ideal para concentrar o tráfego de dados entre o Atlântico Norte e Sul.
Lembrei dessa conversa esta semana por conta da inauguração de um cabo submarino que percorre cerca de seis mil quilômetros pelo Atlântico e conecta a Europa à América Latina, ou sendo mais preciso, liga Fortaleza a Sines, em Portugal.
As palavras do Primeiro-Ministro Português, Antônio Costa, durante a cerimônia que marcou o início da operação desse novo cabo submarino no dia 1 de junho, foram inspiradoras para um português quase cearense como eu. O premier socialista falou de Portugal e eu pensei no Ceará. Adaptando ligeiramente as palavras dele, posso dizer que a nossa posição geográfica faz de nós hoje e fará de nós no futuro algo que é muito importante, que é sermos uma porta de entrada, um ponto de ligação, uma ponte, um ponto de amarração com outros continentes. É este posicionamento que faz a diferença do Ceará no Brasil. Nosso desígnio é podermos fazer esta ligação e esta abertura da América do Sul aos outros continentes.
Os planos portugueses referidos pelo Primeiro-Ministro são ambiciosos para Sines, o local onde está ancorado o cabo submarino ligado a Fortaleza: atrair 3.5 bilhões de euros num megacentro de dados global que criará até 1.200 empregos diretos altamente qualificados e 8.000 indiretos até 2025. A aposta portuguesa é implantar um dos maiores Hyperscaler Data Center da Europa e dar resposta à crescente procura de grandes empresas internacionais fornecedoras de serviços de streaming, social media, ecommerce, gaming, educação online, videoconferência e outros de processamento e armazenamento de dados.
Pensei com os meus botões: Se o governo português aposta forte e acertadamente em Sines que só tem um cabo submarino e planeja o segundo em breve, ligando-a à África, imagina o que se pode implantar na região metropolitana de Fortaleza a partir dessa ligação à Europa, além de dois 2 cabos já conectados à África e outra dúzia também ligados às principais metrópoles sul-americanas e à América do Norte e dos esforços que o governo do estado tem implementado para atrair players globais?
Fortaleza é um hub de cabos submarinos. Mas deve avançar além dessa vantagem locacional. É vital atrair investimento. Precisamos de hardware, mas também de software e “peopleware”. Assim como em Sines, deve-se avançar no Ceará num projeto de transição digital pelas oportunidades que os data centers e a economia dos dados nos trazem aliada a uma transição energética a partir de fontes renováveis abundantes no estado. Além do mais, esse novo mercado tem um enorme potencial para trazer avanços na educação e promover a exportação de serviços.
Artigo de Rômulo Alexandre Soares, Sócio e Conselheiro Consultivo da CBPCE