Ceará responde por metade dos pedidos de projetos de usina eólica no mar e 37,8% da capacidade a ser gerada
Ceará responde por metade dos pedidos de projetos de usina eólica no mar e 37,8% da capacidade a ser gerada
O projeto mais adiantado em energia eólica offshore do Brasil é cearense. Audiência pública com comunidade de Caucaia será realizada em março. Ceará terá 37,8% da capacidade total de energia a ser produzida no Brasil, com 3,71 GW
O Ceará desponta como polo pioneiro na nova indústria em instalação no Brasil no setor de energias renováveis, com 37,8% da capacidade a ser gerada pelos projetos de usinas eólicas no mar. Os planos de implantação de torres de captação de matriz eólica offshore ganham espaço nos pedidos de licenças no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o processo mais adiantado é cearense. Metade das solicitações no órgão é do Estado.
O potencial dos ventos do Ceará é conhecido mundo afora, desde que o Estado se transformou em point do kitesurfe mundial e foi o primeiro a receber parques eólicos no País no início da década passada. Hoje, o modelo de produção offshore é amplamente utilizado na Europa, mas no Brasil essa indústria ainda não existe.
O empresário e diretor da BI Energia, Lucio Bonfim, resolveu entrar no segmento ainda a ser explorado no Estado. Em 2015 iniciou projeto e depois de praticamente cinco anos, no dia 11 de março, será realizada audiência pública para explicar à comunidade os efeitos da intervenção na costa.
O futuro Parque Eólico Offshore Caucaia Parazinho, em Iparana, terá capacidade de produzir 310 Megawatts (MW) de energia. Bonfim revela que o investimento a ser realizado no empreendimento é de US$ 2,2 milhões por MW ou R$ 5,2 bilhões ao todo. Esse aporte deve ser financiado por bancos nacionais de fomento, como o Banco do Nordeste (BNB), que tem uma linha de crédito específica, e o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). Como o valor é muito alto, o diretor da BI Energia também espera por investimentos estrangeiros no parque.
“O nosso projeto, em que trabalhamos desde 2015, chegou em um ponto bastante avançado. A indústria que constrói um parque offshore é diferente dos onshore (em terra). Empresas já têm entrado em contato conosco”, comenta.
Nesse cenário de desenvolvimento, o Ceará desponta. De acordo com levantamento da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), empresa pública ligada ao Ministério de Minas e Energia, há seis projetos para geração de energia no mar aguardando aprovação de licenças no Ibama. Metade deles é cearense, além dos dois mais antigos em tramitação. Além do parque em Caucaia, existe a construção do Complexo Eólico Marítimo Asa Branca I, que será instalado na retroárea do Porto do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, com potência instalada de 400 MW.
De acordo com a EPE, a capacidade total de energia a ser produzida no Brasil com os projetos é de 10,21 GW. Deste total, 3,71 GW são cearenses (37,8%). A entrada nesse mercado com os seis planos em andamento, em poucos anos colocaria o País em posição de destaque na produção mundial em matriz limpa.
Úrsula Carrera, da Diretoria de Licenciamento Ambiental Federal do Ibama, revela que para atender à demanda dos empreendedores, os técnicos precisaram se atualizar para avaliar os pedidos de licença, uma vez que antes não havia petições desta forma. O modelo europeu de licenciamento foi tomado como base. “Essa tipologia de atuação é nova. Ainda não existia uma regulamentação específica para eólicas offshore, mas o Ibama buscou experiências internacionais”.
Sobre o impacto ambiental, há diferenças em usinas em terra e no mar. “No caso dos empreendimentos eólicos offshore, há o trânsito maior de embarcações para manutenção, maior ruído para as comunidades aquáticas. Também existem outros arranjos nos substrato marinho”. Ela ainda destaca que tudo isso é ponderado no momento de liberar o termo de referência e a licença prévia até o período de audiência pública.
No quesito liberações em solo para as linhas de distribuição da energia, os empreendedores não devem encontrar problemas no Ceará. De acordo com o secretário do Meio Ambiente do Estado (Sema), Arthur Bruno, no que se refere à instância estadual, o modelo offshore é bem menos invasivo do que os parques terrestres. “Estamos fazendo um esforço grande para desburocratizar”.
Ele ainda destaca que o fato de ser uma produção de energia limpa torna ainda mais urgente a celeridade nos processos de instalação. “O mundo inteiro vem discutindo a necessidade da substituição de fontes poluentes para energia limpa. Vemos com entusiasmo o fato de o Ceará crescer nessas áreas, pelo fato de não termos usinas hidrelétricas e por termos de reduzir o uso de termelétricas urgentemente”.
No mundo
O atual maior empreendimento fica no Reino Unido, há 75 milhas de distância da costa leste de Grimsby, no parque eólico Hornsea One, que possui 174 turbinas e é capaz de produzir 1,2 GW. Existem projetos brasileiros com capacidades bem maiores aguardando liberação de licenciamento ambiental.
Onshore
O mercado de produção de energia eólica em terra (onshore) no Ceará é o terceiro maior do País em operação. São 79 parques eólicos, com 2,04 GW de capacidade eólica instalada. Atualmente, há, no Estado, em construção ou já contratados, 11 parques, num total de mais 244,80 MW de capacidade instalada. Os dados são da Abeeólica.
Fonte: Jornal O Povo em 12.02.20