Ceará inicia em outubro embarque de melão para China
Produtores já discutem com armadores como será a logística para a primeira viagem, que pode durar até 35 dias. Expectativa é que mercado chinês motive a duplicação da área plantada atual
O Ceará se prepara para dar o maior salto em exportações de frutas nos últimos anos. Até o fim de outubro, produtores locais farão o primeiro teste para enviar melão para a China. Em uma logística que ainda está sendo concluída, a viagem estimada é de 30 a 35 dias e levará seis contêineres do produto para o país asiático. O setor está otimista com a empreitada. Se o resultado for positivo, a expectativa, com o novo mercado, é dobrar a produção local, levar o Ceará ser o maior produtor de melão no país e ampliar a oferta de empregos no campo e nas indústrias do agronegócio.
De acordo com o presidente da Câmara Setorial do Agronegócio, José Amílcar Silveira, o primeiro embarque de melão para a China deve acontecer dia 23 ou 26 de outubro. O evento deve contar com a presença da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina. Os seis contêineres sairão do Porto do Pecém em direção ao Porto de Santos, principal equipamento do tipo no país e maior complexo portuário da América Latina. “É um negócio fantástico. Se a gente conseguir, nossa produção de melão vai dobrar”, antecipa Amílcar.
Segundo ele, a China tem 440 mil hectares plantados de melão. Contudo, a produção não é regular ao longo do ano por conta do período chuvoso, que prejudica o plantio. Já no Brasil, são 20 mil hectares cultivados com melão, sendo 15 mil no Ceará e 5.000 no Rio Grande do Norte, onde as chuvas se restringem a cerca de três meses por ano e não são regulares. Silveira acredita que, efetivada a ponte com o mercado chinês, 20 mil hectares a mais sejam plantados no país, dobrando a capacidade atual, sendo 5.000 novos hectares somente no Ceará e em curto prazo.
Hoje a maioria do produto exportado do Ceará vai para a Europa. Somente um produtor embarca para o continente 300 contêineres por semana. Amílcar Silveira informa que, durante esses meses de pandemia, todos os contratos foram reativados e com procura maior, uma vez que a produção caiu em alguns países. “Com o dólar mais alto, naturalmente vamos ter uma receita maior”, diz, destacando que a expectativa é aumentar em 30% a receita da exportação de frutas em 2020, independente do negócio com a China.
Este ano, em relação à água, Amílcar Silveira afirma que a situação é confortável, devido às chuvas, à efetivação da transposição de águas do Rio São Francisco e ao aporte acumulado no açude Castanhão. Contudo, ele informa que o maior limitador da produção agropecuária local é exatamente a água. “É nosso gargalo, porque não temos grandes rios e o custo para trazer água do São Francisco é caro. Se a água do São Francisco fosse para Fortaleza e o Castanhão abastecesse a agricultura, seria o ideal. Para a pecuária, inclusive, é melhor que chova menos. Se tiver água, não precisamos de chuva. O que falta é reúso, melhorar a eficiência no abastecimento e distribuição, diminuir o desperdício. Só precisa ser eficiente. Hoje o desperdício é de 48%. Se fosse 25%, nós teríamos o equivalente a duas usinas de dessalinização”, explica Silveira.
Segundo o secretário executivo da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará (Sedet), Sílvio Carlos Ribeiro, em anos anteriores, a exemplo de 2019, os produtores exportavam de 100 a 150 contêineres em uma semana. Neste ano, são 250 a 300. “E ainda tem a questão do Oriente Médio e, em outubro, o grande desafio que é a China. Já temos permissão para exportar para lá, mas ainda não tem a logística definida. Os produtores já vão discutir com armadores para fazermos o teste. O problema é o tempo. Da fazenda até a Europa são 10, 12 dias até chegar ao consumidor. Na China, são 30 a 35 dias. Vamos avaliar a qualidade do melão quando chegar lá, a logística, o tempo. Dando certo, vai ser uma reviravolta no mercado”, aposta. Para Sílvio Carlos, a logística para a China sendo positiva, o negócio “vai mudar completamente o mercado, porque o consumo é muito alto. O mundo árabe também comprou bastante ano passado, há muitos países interessados, os Emirados Árabes, a Arábia Saudita”, complementa.
Fonte: O Otimista em 19.09.2020