Eu e o meu terninho roxo: endureci, adoeci e renasci: Por Adriana do Carmo, sócia e diretora da CBPCE
Ontem partilhei um pouco da minha vida profissional numa live do projeto Partilha Flow, da Flow Desenvolvimento Integral, quando falei do quanto endureci e adoeci vestida no meu terninho roxo, para anos depois renascer.
Cada vez mais nós mulheres ocupamos espaços no mercado de trabalho e na sociedade, assumindo cargos de liderança nas empresas, em instituições públicas, na política, empreendendo e trilhando carreiras brilhantes. Sem dúvida, tudo isso é motivo de alegria e muito orgulho.
Porém, quando estamos no mundo corporativo, tão particularmente competitivo, nos deparamos com os mais variados desafios e, muitas vezes, acabamos endurecendo, criando formas rígidas para nos impor, para demonstrar competência e alcançar os resultados desejados. Claro que isso não é regra, mas acontece e aconteceu comigo, vestida rigidamente no meu terninho roxo, minha elegante armadura para me defender de mim mesma.
No meu caso, esse endurecimento chegou disfarçado de extrema responsabilidade assumida inicialmente pelo cargo executivo e depois pela sociedade na minha primeira empresa, pelo compromisso com os números que deveria entregar, pela competência, pela agenda lotada de reuniões, viagens, conferências, tarefas das mais diversas ordens, decisões urgentes, importantes e impactantes, perfeccionismo, centralização. O alto grau de exigência me impôs uma “doce” obrigação de controlar, de entender dos detalhes, de revisar tudo antes de liberar, me levando a uma jornada exaustiva, angustiante e ilusória de perfeição.
E para dar conta de tanta carga, a correria e agitação se instalaram, o “modo piloto automático” foi acionado com o seu radar hipervigilante, levando para o final da fila de prioridades o meu autocuidado e desequilibrando vida pessoal e profissional. Ah, o endurecimento tem 1001 faces que se disfarçam aproveitando-se das armadilhas de uma mente alerta, porém, sem atenção.
Devagarinho passei a olhar muito mais para o futuro (e se acontecer isso…), criando (pre)ocupações baseadas nos medos escondidos no passado (foi horrível quando aquilo aconteceu…). Comecei a brigar internamente diante de cada situação: “se acontecer isso eu digo aquilo”, “se fizerem isso eu faço aquilo” e por aí ia enchendo a mente com ruminações mirabolantes, fantasiosas, mas repletas de sentido para quem não vivia na Presença, o aqui e agora, único lugar real, concreto e possível de ser vivido.
Sorrateiramente, os valores de aparência, aqueles de fora pra dentro, também começaram a tomar mais e mais espaço e a essência quase se esvaziava pelas mãos, perdida por trás de máscaras e armaduras que acreditava me protegerem da vulnerabilidade que habitava em mim.
O resultado de tudo isso? Desconexão! Estresse, esgotamento, exaustão, adoecimento. A falta de autocuidado me desconectou de mim, dos outros e do mundo. E foi preciso o meu coração acelerar desesperado, pedindo socorro, para eu PAUSAR e num lapso de lucidez escutar o seu apelo.
O meu primeiro ímpeto foi de correr para reparar o prejuízo. Mas, ao invés disso eu pausei. Aprendi a meditar e comecei a praticar yoga. Aprofundei no autoconhecimento, meu grande aliado nessa jornada. Usei a psicologia (minha formação de base) a meu favor e identifiquei os meus padrões de rigidez, de onde vinham e porque eu os reproduzia (aliás, faço isso todos os dias com os padrões que me aparecem). Elenquei as minhas forças, potencialidades, habilidades e gaps. Aprendi a integrar melhor o meu pensar, sentir e agir, usando a mente, o coração e as mãos, além de todo o meu corpo como campo informacional.
Aos poucos fui me reconectando comigo. Com coragem e amorosidade, fui desenvolvendo mentalidades (isso mesmo, no plural), comportamentos e habilidades que foram transformando minhas realidades, internas e externas. Uma verdadeira aprendizagem transformacional!
Mergulhei nesse TAO (caminho) e dei mais um passo, deixando fluir o melhor que há em mim, para fazer fluir o melhor que há no outro.
Hoje, meu trabalho alimenta a minha vida de sentido, pois tenho como propósito facilitar a transformação de pessoas e empresas. Vejo que quanto mais nos conhecemos, seja enquanto indivíduos ou organizações, mais entendemos as nossas necessidades e por quais valores estamos sendo guiados, o que nos ajuda a ampliar a nossa visão de mundo e a entender que é possível ocupar qualquer lugar de poder sem se perder no poder do lugar.
Pense nisso. Sinta isso. Trasforme(se). E (re)nasça!
Texto: Adriana Bezerra do Carmo.
Créditos da ilustração Leon Silva. Instagram @reileon